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16/06/2023 Se formassem uma nação, os oceanos seriam integrantes do G7. O que é a economia azul e por que ela é importante para a América Latina
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Se a economia azul — o uso sustentável dos recursos dos oceanos — fosse contada como um país, ela seria a sétima maior economia do mundo. Se formassem uma nação, os oceanos seriam integrantes do G7.
Trata-se do maior ecossistema do mundo, que cobre 70% da superfície terrestre, fornece 50% do oxigênio que respiramos e é o maior depósito natural de carbono. No entanto, por décadas esse ecossistema foi rejeitado.
A sua conservação e proteção ainda tem um longo caminho a percorrer em áreas como a luta contra a pesca predatória, a destruição do habitat e as alterações climáticas.
Indústrias importantes ao redor do mundo dependem da saúde dos oceanos e têm impacto sobre ela. A economia oceânica movimenta entre US$ 3 e 6 trilhões a cada ano, segundo dados das ONU.
Isso inclui empregos e todos os serviços relacionados ao oceano e aos mares, incluindo navegação, pesca, energia renovável, construção de portos, turismo costeiro e infraestrutura costeira.
“Se você calcular a economia oceânica como uma economia nacional, seria a sétima maior economia do mundo”, explica Ole Vestergaard, chefe da Economia Azul Sustentável do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Estima-se que a pesca e a aquicultura contribuam com US$ 100 bilhões por ano e cerca de 260 milhões de empregos para a economia mundial.
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Todos os especialistas consultados pela BBC News Mundo falam sobre a sua importância e da necessidade do desenvolvimento sustentável.
“Se fosse a sétima maior economia do mundo, o oceano seria membro do G7 e sentaria à mesa [dos países poderosos]”, diz Sonia Ruiz, especialista em sustentabilidade do Instituto Esade de Inovação Social e fundadora do Noima.
Origens do termo ‘economia azul’
O conceito surgiu das mãos do economista belga Gunter Pauli, que foi o primeiro a escrever sobre esta ideia em 2009, no seu livro intitulado A Economia Azul, que inclui uma reportagem que fez para a organização sem fins lucrativos Clube de Roma.
Na obra, o autor buscou promover um modelo econômico que tivesse como centro o respeito ao meio ambiente e falou sobre 100 inovações que gerariam mais de 100 milhões de empregos de forma sustentável.
O livro surgiu como uma alternativa à economia verde que criou, em sua opinião, um sistema de produção com preços tão altos que apenas a elite tem acesso aos produtos orgânicos.
“Tudo que é verde é caro, é inacessível. Como vamos ter uma economia onde só os ricos conseguem pagar para fazer algo bem feito? Para mim isso está descartado”, disse Pauli à BBC News Mundo sobre um conceito que posteriormente foi incluído na Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20 em 2012.
Pauli, que é empresário e fundador da Zero Emissions Research Initiative (ZERI), insiste na importância de trabalhar com o que se tem.
“70% da população vive à beira-mar e não está aproveitando isso. Usam o mar como depósito de lixo. Hoje só pensamos em pesca e mineração em alto mar, sem ir mais além”, afirma.
Considerado “o Steve Jobs da sustentabilidade” ou “o Che Guevara da sustentabilidade” na América Latina, ele diz que não é apenas um teórico — e que propõe projetos concretos.
“As pessoas não percebem a oportunidade que têm. Descrevem o problema da poluição plástica, o problema da sobrepesca, o problema da mineração em alto mar, mas como eu sempre digo: ‘análise é parálise'”, diz Pauli.
Seu relatório apresenta “propostas concretas que demonstram que é perfeitamente possível regenerar manguezais, regenerar florestas de algas para obter alimentos, obter energia, ter água potável, etc.”
É o caso, por exemplo, de um projeto em Mar del Plata, na Argentina, focado na criação de larvas de moscas como alimento para a piscicultura geradas a partir de resíduos de matadouros, conta Pauli.
“Existem outros exemplos muito importantes, como o caso de Rapa Nui, que é uma ilha que depende 100% de energia importada do exterior e para eles fizemos um plano de geração de energia eólica mas com pipas. Não com moinhos. Isso permite gerar energia 24 horas por dia e não apenas quando há vento que bate no moinho de vento”, explica.
Por que isso é importante para a América Latina e o mundo?
Assim como uma pessoa não pode viver sem coração e pulmões saudáveis, a Terra não pode sobreviver sem oceanos e mares saudáveis.
Os mares absorvem 30% do CO2 mundial, enquanto o fitoplâncton marinho gera 50% do oxigênio necessário para a sobrevivência. Os mares são essenciais para o bem-estar social.
Mais de 40% da população mundial — ou 3,1 bilhões de pessoas — vivem a menos de 100 km do oceano ou do mar em cerca de 150 países litorâneos e insulares, segundo a ONU.
No caso da América Latina, com aproximadamente 240 mil km de litoral, 27% da população depende direta ou indiretamente do oceano e de suas riquezas.
Por meio de atividades como pesca sustentável, produção de energia renovável ou ecoturismo, os países conseguiram aumentar as taxas de emprego e saneamento, reduzindo a pobreza, a desnutrição e a poluição.
“Trata-se de melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas que vivem de alguma forma relacionadas ou ligadas ao mar, cuja sobrevivência depende do oceano e dos seus recursos”, explica Alicia Montalvo, especialista em economia azul do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).
“Gosto sempre de dizer que o social e o ambiental não podem andar separados.”
“Por exemplo, se facilitarmos o desenvolvimento do turismo sustentável usando bem as praias, os manguezais e todos os recifes de coral, etc., isso melhorará a vida de todas as pessoas que vivem lá”, diz Montalvo, destacando México, Chile e Costa Rica.
“Na América Latina há um problema sério de água potável. Com esses projetos de economia azul trata-se de ter água potável, ter comida em curto-circuito, ter energia renovável, ter gás de algas que é tão fácil de produzir. É a oportunidade de responder às necessidades básicas em curtíssimo prazo. Isso é o mais importante”, acrescenta Pauli.
Confusão de termos
É importante diferenciar a economia azul, ou seja, todas as atividades relacionadas com os oceanos e mares, e a economia azul sustentável, que é o que se fala atualmente quando se menciona simplesmente o termo economia azul.
A mistura destes dois conceitos pode ser confusa, pois existe uma grande parte das empresas de pesca, turismo ou navegação que não são sustentáveis.
“Atualmente não existe uma definição universal de ‘economia azul'”, reconhece Ole Vestergaard.
“O PNUD enfatiza o objetivo da sustentabilidade e fala sobre ‘economia azul sustentável’, porque os setores azuis tradicionais e os usuários marítimos nem sempre são sustentáveis ou ecologicamente corretos.”
“O termo mais curto ‘economia azul’ pode ser confuso, pois pode ser aplicado a negócios oceânicos que não são realmente sustentáveis. É por isso que o PNUD está trabalhando para tornar essa distinção clara em todo o nosso trabalho sobre economia azul sustentável”, acrescenta.
Áreas de interesse são gestão de detritos, economia circular, pesca e aquicultura, restauração de corais e energia marinha.
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A economia azul sustentável busca promover um novo sistema econômico em que os recursos oferecidos pela natureza sejam reaproveitados.
O Banco Mundial segue essa linha ao se referir à economia azul como “o uso sustentável dos recursos oceânicos para o crescimento econômico, a melhoria dos meios de subsistência e do emprego, preservando a saúde do ecossistema”.
As diferentes visões da economia azul podem ser resumidas em quatro modelos, segundo a especialista em sustentabilidade Sonia Ruiz.
Em primeiro lugar, uma visão mais ativista, que é a defendida pelas ONG, centrada na conservação, recuperação e proteção de todas as atividades ligadas ao ambiente marinho.
Em segundo lugar, a visão dos oceanos como oportunidade de negócio, como é o caso, por exemplo, da indústria do turismo e que pode incluir ou não critérios sustentáveis e ambientais.
Terceiro, aquele que vê os oceanos como um modo de vida, que inclui as comunidades que vivem ligadas aos oceanos.
E em quarto lugar, aquele que vê os oceanos como fonte de inovação, como é o caso da exploração sustentável dos fundos marinhos.
Como os projetos de economia azul são financiados
Os projetos de economia azul são financiados principalmente por meio de investimentos privados e públicos, fundos verdes e organizações como o PNUD, que nos últimos 25 anos mobilizou mais de US$ 1 bilhão para atividades de proteção e restauração dos oceanos em mais de 100 países.
Da mesma forma, a ONU lançou em 2018 o UN Environment Program Finance Initiative (UNEP FI), que é uma parceria global que reúne a ONU com mais de 350 bancos, seguradoras e investidores institucionais para desenvolver a agenda de finanças sustentáveis e que promovem a implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 (ODS 14) focado nos oceanos e mares, estabelecido em 2015.
A CAF faz parte desta aliança com a ONU. A entidade prometeu dedicar pelo menos US$ 1,25 bilhões entre 2022 e 2026 a questões relacionadas com a economia azul, para apoiar projetos, por exemplo, turismo regenerativo, energia eólica ou relacionados com a utilização de algas como fonte de proteína e na indústria farmacêutica.
Um exemplo desse tipo de projeto de economia azul sustentável é o caso de um que promove e apoia comunidades de pescadores artesanais de pequena escala na Costa Rica para criar áreas marinhas para uma pesca responsável.
Os pescadores podem solicitar a delimitação de uma área para pesca responsável. Assim, os pescadores artesanais são liberados do poder de intermediários, promovendo assim uma remuneração justa e criando oportunidades de emprego na comunidade.
Fonte: G1 Read More