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30/06/2023Censo do IBGE: Cidades médias ‘puxam’ crescimento do Brasil
01/07/2023 Estimativa divulgada pelo IBGE em 2021 apontava que o país tinha cerca de 213 milhões de habitantes. Dados divulgados pelo Censo nesta semana apontam que, na verdade, a população brasileira é bem mais baixa: são 203 milhões de pessoas. Levantamento do g1 mostra onde está a defasagem. São Paulo, Rio, Salvador: veja onde estão as grandes diferenças entre as estimativas de 2021 e os dados do Censo do IBGE.
Luiz Franco/g1
Os números oficiais do Censo Demográfico 2022, divulgados na última quarta (28), apontam que o Brasil alcançou os 203.062.512 de habitantes. O número representa um aumento de 6,45% em relação ao último levantamento, feito em 2010, mas ainda veio bastante abaixo do esperado pelo IBGE.
Em 2021, por exemplo, a estimativa do órgão apontava que o país teria ao menos 213 milhões de habitantes. Em dezembro de 2022, já com dados prévios do levantamento, o instituto revisou a estimativa para 207,7 milhões, ou 4,7 milhões de pessoas acima do cálculo final.
Uma comissão do IBGE está analisando as informações para entender a defasagem. Os motivos apenas devem ser esclarecidos no final de julho (veja mais informações sobre isso no final desta reportagem).
Os números já divulgados pelo instituto, porém, já permitem apontar a localização destas defasagens. Um cruzamento realizado pelo g1 comparou as estimativas de 2021 e os dados finais do Censo para mostrar algumas destas diferenças.
Veja abaixo os destaques.
De quanto é a defasagem?
A diferença entre o Censo e a estimativa de 2021 é de quase 10,3 milhões de pessoas;
Proporcionalmente, isso representa uma defasagem de -4,8%.
A média da diferença nos 5.570 municípios brasileiros, porém, é menor: -2,9%.
Ou seja, na média, as populações das cidades são cerca de 3% menores do que as estimativas previam.
A média é mais baixa que a defasagem nacional porque algumas cidades tiveram distorções muito maiores (não só proporcionalmente, mas em números absolutos), que acabaram aumentando a diferença.
É o caso de grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador (veja mais detalhes sobre elas abaixo).
Quantas cidades estavam abaixo ou acima da estimativa?
De forma geral, as estimativas de 3.786 cidades estavam inflacionadas – ou seja, a estimativa estava acima do número encontrado pelo Censo. Isso representa 68% das cidades brasileiras.
Do outro lado, as estimativas de 1.779 cidades estavam abaixo da realidade.
Os números das estimativas e do Censo foram exatamente iguais em cinco cidades: Vila Nova do Piauí (PI), Mirabela (MG), Ouro Preto (MG), Borebi (SP) e Lacerdópolis (SC).
Em quais estados do país isso aconteceu?
Todos os estados do país têm cidades que estavam com estimativas mais altas que o Censo.
Inclusive, estas cidades infladas são mais da metade em 24 das 27 unidades da federação.
No Amapá, por exemplo, as 16 cidades estavam infladas nas estimativas de 2021.
Já no Rio de Janeiro, 83,7% das cidades estavam com mais habitantes que a realidade.
Os únicos estados em que estas cidades são minoria são Paraná, Roraima e Santa Catarina.
São Paulo e outras grandes cidades estavam infladas
Apenas na cidade de São Paulo, a diferença entre a estimativa e o Censo chegou a quase 950 mil pessoas a menos – o equivalente a quase 10% da defasagem. A estimativa apontava que a cidade tinha cerca de 12,4 milhões de habitantes – quando, na realidade, o Censo apontou uma população de 11,5 milhões, 7,6% menor.
Já no Rio, a estimativa estava inflada em 564,1 mil pessoas. Inclusive, no caso do Rio, a estimativa também errou a tendência de crescimento da cidade. A previsão era que a população da cidade ia passar de 6,3 milhões para 6,8 milhões. Mas o Censo mostrou que, em vez de crescer, a capital fluminense perdeu habitantes entre 2010 e 2022: a população é de 6,2 milhões atualmente.
O mesmo aconteceu em Salvador de forma mais acentuada. A estimativa era 16,6% mais alta que a realidade – uma distorção muito maior que a média de 2,9%. Em números absolutos, isso quer dizer uma diferença de 482 mil pessoas a menos na cidade.
Mesmo em Brasília, cidade que, de fato, cresceu segundo o Censo, a distorção chegou a 9%: a estimativa previa um crescimento de população ainda maior do que houve, com 277,3 mil pessoas a mais.
Estas cidades fazem parte de um grupo de 16 municípios do país cujas estimativas estavam infladas em mais de 100 mil habitantes. Juntas, as diferenças delas somam 4,4 milhões de habitantes a mais no país – o equivalente a 42% da defasagem nacional. Todas tiveram distorções bem maiores que a média nacional.
Imagem da capital paulista. A diferença entre a estimativa e o Censo chegou a quase 950 mil pessoas a menos na capital paulista – o equivalente a quase 10% da defasagem
Luiz Franco/g1
Veja abaixo quais são estas cidades e suas distorções:
São Paulo (SP): Diferença entre estimativa e Censo: -945.127 pessoas (-7,6%);
Rio de Janeiro (RJ): Diferença entre estimativa e Censo: -564.138 pessoas (-8,3%);
Salvador (BA): Diferença entre estimativa e Censo: -482.314 pessoas (-16,6%);
Brasília (DF): Diferença entre estimativa e Censo: -277.257 pessoas (-9%);
Fortaleza (CE): Diferença entre estimativa e Censo: -274.713 pessoas (-10,2%);
Belo Horizonte (MG): Diferença entre estimativa e Censo: -215.141 pessoas (-8,5%);
Belém (PA): Diferença entre estimativa e Censo: -203.031 pessoas (-13,5%);
São Gonçalo (RJ): Diferença entre estimativa e Censo: -201.613 pessoas (18,4%);
Manaus (AM): Diferença entre estimativa e Censo: -192.356 pessoas (-8,5%);
Curitiba (PR): Diferença entre estimativa e Censo: -189.993 pessoas (-9,7%);
Recife (PE): Diferença entre estimativa e Censo: -172.097 pessoas (-10,4%);
Porto Alegre (RS): Diferença entre estimativa e Censo: -159.960 pessoas (-10,7%);
Natal (RN): Diferença entre estimativa e Censo: -145.408 pessoas (-16,2%);
Duque de Caxias (RJ): Diferença entre estimativa e Censo: -121.297 pessoas (-13,1%);
Goiânia (GO): Diferença entre estimativa e Censo: – 118.389 pessoas (-7,6%);
Guarulhos (SP): Diferença entre estimativa e Censo: -112.910 pessoas (-8%).
Cidades pequenas: grandes diferenças proporcionais
Há casos de cidades que, proporcionalmente, tiveram variações muito maiores do que os grandes municípios mostrados acima. Mas, como são cidades menores, estas variações representam bem menos em números absolutos – por isso, pesam também menos na defasagem nacional.
Santana do Araguaia (PA), por exemplo, teve a maior defasagem negativa do país. A estimativa de 2021 previa uma população de 76 mil pessoas – mas o Censo mostrou um número 57,3% menor, de 32,4 mil.
O mesmo aconteceu em outras duas cidades paraenses: Ipixuna do Pará (-54,8%) e São Félix do Xingu (-51,8%).
Há ainda cidades que tiveram o movimento inverso: as estimativas estavam muito abaixo da realidade. É o caso de Japurá (AM), por exemplo, em que a estimativa era de 1.755 pessoas, mas o Censo retornou 8.858 habitantes.
A situação é parecida com a de Jacareacanga (PA), Severiano Melo (RN), Maetinga (BA) e outras pequenas cidades do país.
Comissão do IBGE analisa defasagem
O próprio presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, afirmou na quarta-feira que não esperava que houvesse uma defasagem tão grande entre os números.
“Foi uma contagem feita depois de 12 anos, sem uma contagem no meio da década, e já esperávamos essa defasagem. Não podíamos esperar que fosse tão alta, mas já sabíamos que ia dar uma diferença em relação à população que vinha sendo estimada”, afirmou a jornalistas.
Azeredo indicou que a apuração de alguns indicadores – como níveis de fecundidade, migração e mortalidade – deve ajudar a explicar melhor os motivos dessa defasagem.
Ele também defendeu que o IBGE faça uma contagem da população na metade da década. “É fundamental fazer uma contagem no meio da década para que não passemos pelo que passamos agora, um apagão de dados”, afirmou.
“Passamos, por conta da contagem, por um apagão de dados no meio da pandemia. Isso atrapalhou muito, não tínhamos informação sobre o número de vacinas para cada município. O censo mostra um país diferente, consegue colocar o Brasil no mapa, mostrar onde está a população”, disse Cimar Azeredo, do IBGE.
Azeredo ainda afirmou que uma comissão do órgão está fazendo a análise das informações para entender as diferenças entre a estimativa e o Censo.
A previsão é que as causas dessa defasagem sejam esclarecidas no final de julho, quando informações sobre populações quilombolas, originárias e outros dados relativos à raça também serão divulgados.
Fonte: G1 Read More