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11/12/2024Copom acelera alta de juros e eleva taxa Selic para 12,25% ao ano
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (11) elevar a taxa Selic de 11,25% ao ano para 12,25% ao ano. Com o aumento de 1 ponto percentual na taxa básica de juros, o Banco Central passa a adotar uma dose mais forte para combater a inflação.
Veja os recados deixados pelo comunicado.
Cenário externo
O ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Balanço de riscos
Em função da materialização de riscos, o Comitê avalia que o cenário se mostra menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior. Persiste, no entanto, uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
Análise do cenário nacional
O Comitê tem acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa.
O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, dinamismo acima do esperado na atividade e maior abertura do hiato do produto, o que exige uma política monetária ainda mais contracionista.
Próximas altas
O Copom então decidiu realizar um ajuste de maior magnitude, elevando a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 12,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões. A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Expectativas vinham piores
A decepção com o pacote de corte de gastos proposto pelo governo e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos aumentaram a sensação de risco econômico por aqui e no exterior. O resultado foi ainda mais mau humor de investidores com o Brasil e um real em franca desvalorização, chegando à casa dos R$ 6.
O Banco Central já alertava que um cenário pior colocava pressão sobre a inflação brasileira, que demonstrava há meses uma resistência a voltar para a meta de 3%. Em novembro, os membros do comitê haviam elevado a Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano.
Dado o patamar do câmbio, a força da atividade econômica e a insegurança com a trajetória da dívida pública do país — três injeções de força na inflação. Ainda segundo o Focus, a alta de juros não para por aí, e deve chegar aos 13,5% ao final de 2025.
Veja abaixo o motivo para a aceleração da alta, segundo analista, e quais os prognósticos para a taxa de juros em 2025.
O que pode influenciar nas próximas decisões do Copom?
Segundo especialistas consultados pelo g1, uma série de fatores explica a trajetória de alta da Selic das últimas reuniões — e as sinalizações de que ela deve seguir elevada à frente.
Entre eles:
As incertezas sobre as contas públicas e os efeitos defasados dos gastos do governo;
A atividade econômica forte e o mercado de trabalho aquecido;
O cenário internacional adverso e a taxa de câmbio pressionada.
São três aspectos que trazem consigo fatores inflacionários. O mercado avalia que, enquanto o governo não demonstrar soluções para o aumento de gastos públicos e do endividamento, mais difícil será controlar a inflação. (entenda mais abaixo)
De volta ao último boletim Focus: a estimativa dos economistas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, subiu de 4,71% para 4,84% ao final de 2024 — o que confirmaria o indicador acima do teto da meta, de 4,50%.
“Estamos em um momento bastante delicado para a condução da política monetária, com esses três fatores fundamentais indo na direção de um possível aumento de juros”, diz o economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel.
Entenda cada um dos pontos abaixo.
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📉 Incertezas sobre as contas públicas
O rumo das contas públicas continua a trazer preocupações. Segundo a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, o aumento de gastos visto no último ano foi focado em transferências de recursos para as famílias, que impulsiona o consumo e traz pressão à inflação.
“Ainda temos um déficit muito alto [quando as despesas superam as receitas]. E o que acabou ficando claro para os investidores é que o arcabouço fiscal pode não ser suficiente para controlar os gastos do governo”, diz a economista.
“A demanda segue aquecida e o consumo das famílias vem forte. Existe também uma defasagem do impulso dos gastos governamentais, que chega nos próximos meses. Somado ao mercado de trabalho em alta, o consumo fica muito robusto e pode impactar a inflação”, completa.
Os últimos dados divulgados pelo BC indicam que, mesmo com o superávit de R$ 36,9 bilhões em outubro, as contas públicas ainda acumulam um déficit de R$ 56,7 bilhões no ano, o equivalente a 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB). A meta estabelecida pelo arcabouço fiscal era de zerar o déficit.
Na tentativa de organizar a casa, o governo anunciou recentemente um pacote de contenção de despesas de R$ 70 bilhões para os próximos dois anos. As medidas foram anunciadas, porém, junto à proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha menos que R$ 5 mil, uma renúncia de receita que piora as chances de estabilizar a dívida pública.
Vistas como insuficientes por grande parte do mercado, as medidas ainda precisam do aval do Congresso Nacional, que já sinalizou que o pacote pode enfrentar resistências.
Para o economista do ASA Leonardo Costa, o mercado ainda não conseguiu ver no pacote (na intenção do governo ou nos comunicados recentes) algum indicativo de preocupação com a dinâmica do endividamento. Só com essa métrica controlada que investidores nacionais ou estrangeiros ganhariam confiança de destinar recursos ao país — melhorando a cotação do dólar, por exemplo.
“As projeções que acompanhamos mostram que devemos ver uma continuidade da elevação da dívida pública nos próximos anos”, diz Costa, reforçando que o Banco Central deve ficar atento aos eventuais impactos na inflação que esse cenário deve trazer ao longo do tempo.
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💼 Atividade econômica forte e mercado de trabalho aquecido
Assim como os repasses do governo aos programas sociais, a força da atividade econômica brasileira e do mercado de trabalho também tendem a manter o consumo das famílias em alta.
O PIB do Brasil teve aumento de 0,9% no terceiro trimestre de 2024, acumulando alta de 3,1% em quatro trimestres. A expectativa do mercado, segundo o boletim Focus, é de que a economia cresça até 3,39% neste ano.
Além disso, a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua indicou que a taxa de desemprego do país caiu para 6,2% no trimestre encerrado em outubro, na menor taxa de desocupação de toda a série histórica do indicador, iniciado em 2012.
Houve um novo recorde no número de trabalhadores ocupados, e o rendimento mensal real foi de R$ 3.255 no período, alta de 3,9% na comparação anual.
“Os dados de atividade do terceiro trimestre vieram acima do esperado pelos analistas e temos indicação de um mercado de trabalho ainda aquecido. Esses fatores apontam na direção de uma inflação mais forte no curtíssimo prazo, com juros mais elevados”, explica Sichel, da Porto Asset.
🪙 Cenário internacional adverso e pressão no câmbio
Fora os fatores domésticos, os economistas consultados pelo g1 também citaram questões internacionais que podem influenciar as decisões do Copom.
“Tivemos o resultado das eleições norte-americanas com a vitória de Donald Trump, que desde o começo já levantava bandeiras com medidas que trazem mais crescimento para os Estados Unidos, mas também trazem o risco de uma inflação maior por lá”, explica Rafaela Vitória, do Inter.
A vitória de Trump prevê maior protecionismo para a indústria americana, com elevação de tarifas para produtos importados, e renúncias de receitas para baixar impostos.
Com produtos importados mais caros e menos recursos entrando no caixa do governo, há um aumento das preocupações com a capacidade de o país cumprir com o pagamento da dívida norte-americana — como também acontece aqui.
Isso aumenta a exigência de investidores por um prêmio maior, ou seja, juros mais altos. Isso faz minguar a previsão de que o Fed conseguiria reduzir de forma significativa os juros americanos e mantê-los baixos por mais tempo.
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Juros maiores significam título públicos americanos (Treasuries) pagando mais. Como são considerados os produtos de investimento mais seguros do mundo, as Treasuries com rentabilidades mais altas atraem investidores estrangeiros, que encaminham seus recursos para os EUA e dão força para o dólar.
“Todas as vertentes da política econômica de Trump apontam para uma economia norte-americana mais forte e um dólar global mais valorizado”, diz Sichel.
Na prática, uma valorização global do dólar coloca ainda mais pressão sobre as moedas de países emergentes, como o Brasil. Com o fluxo de dólares direcionados para os EUA, a taxa de câmbio tende a piorar no Brasil, estimulando a inflação.
Na última reunião, o BC fez até menção ao cenário duvidoso nos Estados Unidos como item de cautela para as próximas reuniões.
“O ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica incerta nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed [Banco Central americano]”, dizia a nota de outubro.
O que esperar para a taxa de juros em 2025?
Com uma série de riscos de alta para a inflação brasileira, a leitura do mercado é que não há nenhuma perspectiva de redução de juros no curtíssimo prazo. Entre os economistas consultados pelo g1, todos esperam novas altas de juros nas próximas reuniões do Copom.
Segundo Rafaela Vitória, além de todo o cenário de pressão inflacionária, também fica no radar uma possível aceleração de gastos em 2026, ano eleitoral.
“Por mais que a gente veja um ano de 2025 como um ano de ajuste e possível controle maior dos gastos, ainda temos um risco grande de expansão em 2026. Ainda temos muita incerteza pela frente” diz a economista.
Por outro lado, o governo aposta nas medidas de corte para ganhar a confiança do mercado de volta. Nesta terça, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, avaliou que a proposta de corte de gastos apresentada pela área econômica foi a “possível dentro de um governo democrático, com vários partidos”.
“Nosso apelo é que tente fazer o esforço nesse ano para colher em 2025 uma redução dos gastos obrigatórios. Presidente apresentou uma PEC, lei complementar, ordinária, e vai chegar aos militares. São quatro medidas”, disse.
Segue sendo insuficiente para acalmar os investidores. Como mostrou o g1 neste fim de semana, os analistas não acreditam mais em juros abaixo dos 10% no governo Lula.
Fonte: G1 Read More