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Custo do milho, calor e demanda aquecida puxaram alta. Associação de produtores diz que preço deve se normalizar até a Páscoa, mas economista diz que isso vai depender do preço das carnes. Entenda os motivos que fizeram o preço do ovo disparar
O ovo ficou 15% mais caro nos supermercados em fevereiro e o valor subiu 16,42% na comparação com o mesmo mês em 2024, aponta o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta quarta-feira (12), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No atacado, o alimento já havia registrado uma alta de mais de 40% no mesmo mês em diversas regiões produtoras do país, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea – Esalq/USP).
Especialistas dizem que o aumento é impulsionado pelo custo do milho, calor intenso e demanda aquecida na Quaresma, os 40 dias que antecedem a Páscoa. Nesse período, os católicos costumam diminuir o consumo de carne vermelha.
No dia 20 de fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou sobre a situação do preço do ovo, ao dar entrevista sobre a inflação dos alimentos.
“Eu sei que o ovo está caro. Quando me disseram que está R$ 40 a caixa com 30 ovos, é um absurdo. Vamos ter que fazer reunião com atacadistas para discutir como é que a gente pode trazer isso para baixo”, disse o presidente.
Segundo produtores, o preço deve se “normalizar” até o fim da Quaresma. Nesse período, os católicos costumam diminuir o consumo de carne vermelha e aumenta a demanda por ovo. Por outro lado, economista aponta que a forte demanda pode continuar após esse período. Veja detalhes abaixo.
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Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), é normal que o preço do ovo aumente antes e durante a quaresma, já que, nesse período, “há uma substituição do consumo de carnes vermelhas por proteínas brancas e por ovos”.
Tabatha Lacerda, diretora administrativa do Instituto Ovos Brasil (IOB), diz que isso, de fato, costuma acontecer, mas que a alta de preço pré-Quaresma veio um pouco antes do esperado.
“O efeito da Quaresma demora um pouco para aparecer, então foi uma surpresa”, comenta Tabatha.
O IOB é uma organização sem fins lucrativos mantida por empresas e associações do setor.
Para a diretora da instituição, um dos principais motivos que explica a alta recente é o avanço do custo de produção. “O milho, por exemplo, já aumentou 30% desde julho de 2024. E a alimentação das galinhas é feita, basicamente, com milho”, diz Tabatha.
Em nota, a ABPA acrescentou que o custo com embalagens aumentou “mais de 100%” nos últimos oito meses, e que as temperaturas em níveis históricos “têm impacto direto na produtividade das aves”.
Segundo o Cepea, outro fator importante para o encarecimento é a baixa disponibilidade de ovos para venda.
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A alta do preço em fevereiro fez com que houvesse uma pequena retração nas vendas de ovos no atacado, informa o Cepea.
No Espírito Santo, por exemplo, a quantidade menor de negociações criou uma pressão por descontos no estado. Contudo, a instituição acredita que a demanda voltará a crescer por causa da Quaresma, o que pode evitar uma redução significativa nos valores.
Já os produtores representados pela ABPA esperam que o preço do ovo se normalize até o fim da Quaresma.
Por outro lado, o analista da Safras & Mercado Fernando Henrique Iglesias diz que isso não é uma garantia. Isso porque, em sua avaliação, mais que o “efeito Quaresma”, o que tem sustentado a forte demanda por ovos é o aumento dos preços das carnes bovinas, de frango e suínas.
Quando a inflação desses alimentos aumenta, é comum que o consumidor opte pelos ovos.
“O que a gente precisa monitorar é o comportamento do mercado em relação às proteínas concorrentes. Se os preços da carne bovina, de frango, seguirem em patamares muito proibitivos, mesmo depois da Quaresma, nós ainda vamos perceber o mercado de ovos inflacionado”, diz Iglesias.
“Talvez o movimento de alta acabe perdendo intensidade, mas nós não vamos ver quedas abruptas de preço até porque a tendência deste ano é de menor produção de carne bovina”, destaca o analista do Safras.
Ainda sobre a demanda por ovos, Tabatha, do IOB, comenta que a instituição tem percebido que, ao longo dos últimos anos, a população tem optado mais pelo ovo como uma proteína básica. “Antes ele era só um acompanhamento”, destaca.
“A gente teve um aumento significativo de consumo nos últimos anos. Em 2023, por exemplo, o consumo foi de 242 unidades per capita (por pessoa), subindo para 269 unidades em 2024, com uma expectativa de alcançar 272 unidades por pessoa em 2025”, afirma.
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Tabatha afirma que ainda não é possível fazer essa afirmação.
Ela diz que houve sim um aumento das vendas externas a partir dezembro, influenciada pela situação da gripe aviária dos EUA – que tem dizimado a produção local –, mas que essa alta de preço recente ainda não tem relação com as exportações.
“As exportações de ovos têm efeito praticamente nulo sobre a oferta interna, já que representam menos de 1% das 59 bilhões de unidades que deverão ser produzidas este ano”, complementa a ABPA.
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