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O livro sagrado é o maior best-seller da história, com mais de 3,9 bilhões de exemplares vendidos no mundo. O g1 conversou com duas empreendedoras que encontraram um novo mercado: de quem quer um toque de luxo e exclusividade por meio da personalização. Empreendedoras faturam com personalização de Bíblias
Cantoneiras folheadas a ouro, pedrarias e glitter✨. A pastora e influenciadora digital Mariana Boettger tem 29 modelos diferentes da Bíblia Sagrada, com cores e decorações feitas para combinar com as roupas que usa nos cultos e conferências⛪.
“Uma bíblia para cada look. Se vou a uma conferência que dura três dias, por exemplo, levo três bíblias para combinar com minhas roupas. E não sou só eu: meu esposo e meus filhos também.”
A pastora garante que as combinações passam longe da superficialidade. “Combinar é a cereja do bolo, mas o propósito é despertar o interesse das pessoas pelo livro sagrado. É uma porta de entrada para atrair a leitura”.
Ela conta que a bíblia do dia é a última etapa do visual antes de ir à igreja. A combinação começa no closet, a partir das roupas e acessórios escolhidos, como bolsas e joias. A seleção é sempre feita com muito rigor.
“Quando descobrem que é uma bíblia, falam: ‘Que incrível! Quero uma para mim’. É uma forma de inspirar e tirar aquela visão de que a mulher crente é aquela que só usa o cabelo até o quadril, não se arruma, não pode ter bons hábitos e não pode investir nela”.
Mariana Boettger usa sua coleção de bíblias para fazer combinações
Mariana Boettger/ Arquivo Pessoal
E, em alguns casos, o investimento é bem alto. Mariana, por exemplo, já pagou mais de R$ 2,5 mil em uma coleção de cinco bíblias que possuem textos no formato original — grego e aramaico.
🪙 Não é à toa que as bíblias decoradas, que dão um toque extra de luxo e exclusividade, se tornaram a principal fonte de renda para algumas famílias, que chegam a faturar mais de R$ 100 mil em um mês.
Modelos incrementados podem atingir valores extraordinários, dependendo do material utilizado e do esforço manual necessário. As customizações podem custar quase R$ 1 mil.
Há bíblias com valor histórico significativo. Em um leilão, a bíblia mais antiga e completa que existe no planeta foi arrematada por US$ 38 milhões (cerca de R$ 281,5 milhões). Escrita em hebraico, estima-se que ela tenha sido criada há cerca de 1.100 anos.
As bíblias personalizadas estão em outra categoria, em que há apenas o ganho estético ou um incremento ao conteúdo. Exemplos disso são as bíblias de estudo, que incluem notas explicativas, referências cruzadas, dicionários e até infográficos, tornando-as ferramentas valiosas para quem busca um entendimento mais profundo dos textos sagrados.
Stephanie Kichler é uma das pioneiras desse mercado, e mantém um e-commerce de bíblias de luxo personalizadas há mais de 10 anos. O investimento inicial foi zero — todos os pedidos são feitos sob encomenda —, e hoje ela vende bíblias para mais de 120 países, como Nova Zelândia e Japão
“Uma vez recebemos um único pedido de 200 bíblias só para o Japão, mas são vendas mais pontuais. Não são malotes gigantes e frequentes.”
Por mês, Stephanie vende mais de 200 modelos, que custam de R$ 140 a R$ 700, mas que podem alcançar valores ainda maiores dependendo dos adereços escolhidos pelos clientes. Segundo ela, os modelos campeões são as bíblias com capas de couro e glitter
Thatianne Rodrigues também viu sua vida mudar com a personalização de bíblias. O negócio começou depois que ela customizou a própria bíblia para economizar.
A ideia chamou a atenção de outros fiéis da igreja que ela frequentava e hoje ela vende mais de 100 modelos por mês. Os preços variam entre R$ 100 e R$ 500, com os modelos com pedrarias e as bíblias bolsa, que têm alça, sendo as mais requisitadas pelas clientes.
Apesar de serem evangélicas, as duas empreendedoras também trabalham com modelos de outras denominações religiosas, como bíblias católicas e ortodoxas. (saiba mais adiante)
Abaixo, entenda o sucesso por trás das bíblias personalizadas, e também as polêmicas que envolvem o tema:
📖 O mercado das bíblias
💣 As polêmicas
✨ Como surgiu a personalização
A coleção de 29 bíblias de Mariana Boettger
Mariana Boettger/ Arquivo Pessoal
📖 O mercado das bíblias
➡️ A bíblia é um compilado de textos sagrados, divididos em livros de Gênesis a Apocalipse. Os católicos consideram 73 livros, os protestantes (evangélicos) 66, a Igreja Ortodoxa 78, e os judeus apenas 39, da parte conhecida pelos cristãos como Antigo Testamento.
O “livro sagrado” é o maior best-seller da história. Segundo estimativas da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), mais de 3,9 bilhões de exemplares já foram vendidos ao redor do mundo.
O último Relatório de Distribuição de Escrituras, com ano base de 2022, mostrou que o Brasil lidera o ranking de consumidores:
Brasil: 3,2 milhões;
Índia: 2,6 milhões;
China: 1,9 milhões;
Nigéria: 1,4 milhões;
EUA: 1 milhão.
A expectativa das empreendedoras é que, com a personalização e transformação desse instrumento religioso, seja como acessório ou presente, as vendas impulsionem ainda mais.
Empresárias customizam bíblias com Cantoneiras folheadas a ouro, pedrarias e glitter
Made in God/ Divulgação
A bíblia, em sua forma original, é de domínio público. Isso significa que qualquer pessoa pode traduzi-la e até adicionar reflexões para vendê-la, mas há algumas restrições.
📌 A tradução precisa manter o sentido original, mas pode ser adaptada para a linguagem contemporânea e usada por diferentes públicos.
A SBB, que é a maior distribuidora do país, faz bíblias em várias versões que tornam o livro mais atraente e acessível para os leitores. No catálogo, há bíblias em braile e até em tupi-guarani.
Além disso, alguns livros vêm com reflexões direcionadas para públicos específicos, como mulheres, jovens e detentos.
Apesar de a estética não ser o foco da SBB, o próprio diretor da distribuidora, Erni Seibert, afirma: “A personalização pode tornar esse item sagrado mais atraente, eliminando obstáculos e incentivando a leitura. Esse é o objetivo”.
💣 As polêmicas
Stephanie e Thatianne não precisam de autorização para vender bíblias, pois a personalização que elas fazem é apenas estética. Mas isso não as livra de comentários bastante negativos sobre seus trabalhos.
As duas empreendedoras dependem da internet para as vendas, o que demanda forte presença nas redes sociais. Por lá, chegam críticas sobre o excesso de brilho e à transformação do livro sagrado em um produto.
💭 Mas a prática de personalizar bíblias é errada? Para o diretor da Sociedade Bíblica, não, já que o objetivo primordial é levar a leitura do texto sagrado às pessoas.
Bíblia bolsa é um dos modelos mais confeccionados por Thatianne Rodrigues.
Bíblia de Luxo/ Thatianne Rodrigues
Seibert, da SBB, acredita que é incorreto dizer que existe um “mercado de bíblias” e minimizar esse item sagrado como um produto comercial. No entanto, ele pontua que “algumas pessoas agregam valor e lucram com isso” — caso de Thatianne e Stephanie.
“A capa da bíblia, historicamente, não tem valor nenhum. O valor está no conteúdo, mas a capa mostra o valor que eu dou para a bíblia”, diz ele.
Sobre as polêmicas que envolvem o tema, Thatianne afirma: “As críticas não me afetam. Inclusive, há quem diga: ‘se o ladrão roubar achando que é uma bolsa, pelo menos vai ser evangelizado’”.
Já Stephanie defende que a personalização é mais do que apenas um negócio lucrativo: “Somos um ministério que foi levantado para alcançar as pessoas que poderiam não ter interesse em ler as bíblias tradicionais, mas que se sentiram motivadas por meio das nossas capas.”
Thatianne Rodrigues começou o empreendimento após customizar a própria bíblia para economizar
Thatianne Rodrigues/ Arquivo Pessoal
✨ Como surgiu a personalização
Tanto Stephanie quanto Thatianne oferecem um serviço personalizado, bordando nomes e outras palavras nas capas das bíblias, além de combinar diferentes materiais e cores🧵. Para elas, esse é um dos motivos pelo qual as bíblias personalizadas têm feito tanto sucesso.
“Há uma passagem que diz que Deus nos chama pelo nome. Ver o seu nome ali na capa, desperta o desejo de abrir e ler”, explica Stephanie sobre a ideia de bordar nomes nas capas.
A empresária de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, começou o negócio religioso em um dos cômodos da sua casa. Hoje, com o crescimento da loja, ela decidiu se mudar e dedicar a casa exclusivamente à produção de bíblias.
A “Made in God”, nome do empreendimento, emprega 10 pessoas. Para atender às centenas de pedidos que chegam de todo o mundo, Stephanie também precisou investir em infraestrutura, como máquinas de corte a laser👨🔧, e investir em um pequeno estoque.
Cada bíblia demora cerca de 15 dias para ser confeccionada. A tarefa que mais exige tempo, segundo ela, é a restauração de bíblias antigas: “São pessoas que têm um carinho especial por aquele objeto, que pode ter pertencido a um ente querido. Dá até para colocar foto.”
Já Thatianne, empresária de Fortaleza, ainda concilia a moradia com os negócios. Ela separou dois cômodos da casa para a confecção das bíblias, sendo que um deles é dedicado à recepção de clientes.
A empresária vende cerca de 100 bíblias por mês, tudo feito por encomenda, mas seu desejo é expandir ainda mais. “Meu sonho é abrir uma loja física, mas antes de tudo, passar de MEI para ME e contratar mais pessoas para atender um número maior de clientes.”
A customização das bíblias surgiu de forma natural para ambas. Nenhuma das duas havia planejado abrir seus empreendimentos, que hoje rendem lucros acima dos seis dígitos.
O pai de Stephanie era sapateiro e, após se converter à denominação evangélica, decidiu usar suas habilidades para decorar uma bíblia e presentear a pastora da igreja. Isso chamou a atenção da comunidade e a família começou a receber encomendas.
O verdadeiro impulso nos negócios veio quando ele postou um vídeo entregando uma bíblia personalizada para Ana Paula Valadão, uma das principais vozes da música evangélica. O vídeo viralizou, e as encomendas dispararam.
“Eu não sabia como fazer, sem capital de giro e sem recursos, porque já vínhamos de uma empresa que quebrou. A gente vendia uma bíblia, comprava os insumos para fazer outra e repassava”, conta a empreendedora.
“Os primeiros modelos de bíblias eram mais simples, feitos à base de glitter e pedraria. Hoje, elas estão mais bem trabalhadas e até incluem peças folheadas a ouro” completa.
Stephanie também vende marcadores, estojos para bíblias e acessórios que completam o momento devocional, além de itens de decoração com significados religiosos.
Já Thatianne, dona do empreendimento “Bíblia de Luxo”, se tornou artesã e empresária acidentalmente após customizar sua própria bíblia para economizar.
“Fiz o orçamento em outro lugar, mas o valor era alto para mim. Comprei o material necessário e fiz a minha. Quando usei na igreja, foi um sucesso. Todo mundo queria uma.”
“Investimento zero, apenas fé e coragem. Eu tinha um cartão de crédito, comprava a bíblia e o material, customizava e repassava para o cliente. Assim era o capital de giro”, lembra.
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