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Especialistas ouvidos pelo g1 analisaram cenário econômico interno diante das medidas anunciadas pelo presidente americano Donald Trump. Pontos negativos e positivos do Tarifaço de Trump para o Brasil, segundo especialistas
Arte/g1
O pacote de tarifas recíprocas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode trazer desafios imediatos para o Brasil, mas também podem trazer mais competitividade para produtos brasileiros no mercado internacional.
A avaliação é de economistas ouvidos pelo g1 e, nesta reportagem, você vai entender quais são os pontos positivos e negativos dessas medidas para o Brasil.
➡️Isso significa que: se por um lado, esses efeitos vão atingir negativamente o Brasil no curto prazo, por outro, podem acarretar benefícios nos médio e longo prazos.
🌍Donald Trump anunciou, na semana passada, a imposição de tarifas a países do mundo que, no entendimento da Casa Branca, “roubam” os EUA na relação comercial. Os produtos brasileiros foram taxados com o menor índice, de 10%.
Desde o anúncio, países como a China e blocos como a União Europeia passaram a articular uma reação ao “tarifaço” (leia mais abaixo). Além disso, México e Canadá já vinham anunciando medidas ao longo das últimas semanas.
Trump durante reunião de gabinete nesta quinta (10)
Brendan SMIALOWSKI / AFP
Nessa quinta-feira (10), Trump recuou e afirmou que irá pausar por 90 dias o programa de tarifas recíprocas, e reduzirá para 10% as tarifas de importação contra países, exceto a China.
No caso dos produtos chineses, as taxas impostas pelos Estados Unidos aumentarão para 145%, o que causou retaliações de Pequim. Nesta sexta (11), a China anunciou mais uma medida reciproca, e as tarifas impostas pelo país aos EUA chegaram a 125%.
O Brasil, por outro lado, tem adotado a política do “diálogo”, via relações diplomáticas. No entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) garantiu que o governo irá responder a qualquer iniciativa de impor protecionismo, ‘que não cabe mais ao mundo’.
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Pesos na balança comercial
De acordo com economistas ouvidos pelo g1, as medidas impostas pelo presidente Trump podem dificultar as exportações brasileiras para os Estados Unidos e exigir que o mercado brasileiro oferte produtos com maior qualidade, por conta da competitividade.
Além desse, os principais desafios para a economia brasileira após o “tarifaço” de Trump são:
a diminuição de exportações brasileiras;
o declínio da economia mundial; e
as inundações de produtos chineses
A questão que já se coloca nos mercados, uma vez que o “tarifaço” está mudando a lógica comercial do mundo inteiro, é se haverá algum efeito colateral que pode ser benéfico para a economia brasileira.
Especialistas apontam que o cenário pode ser favorável para o Brasil se as tarifas do republicano contribuírem para beneficiar e ampliar a relevância econômica do país no contexto mundial.
Veja, abaixo, três pontos negativos e três pontos positivos listados pelos economistas ouvidos pelo g1:
Pontos negativos
🔎Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil.
No ano passado, o mercado de exportações brasileiro registrou um aumento de 9,2%, um marco histórico nas relações comerciais com os Estados Unidos. As exportações brasileiras para o mercado norte-americano atingiram US$ 40,3 bilhões em 2024, 3,4 bilhões a mais que em 2023.
“Essa tarifa paga pelos produtos vai afetar diretamente a competitividade dos produtos brasileiros. Quando a tarifa é alta, o preço consequentemente também é alto, o que afeta o consumo do produto no mercado do EUA”, explica a doutora em direito das relações econômicas internacionais Priscila Caneparo.
A especialista pondera que os impactos terão efeitos a curto e longo prazo. “Primeiro, a gente tem uma diminuição da demanda, o produto fica mais caro, logo o importador vai exigir mais qualidade no produto final”, prossegue a especialista.
Impacto sobre aço e alumínio
Os principais produtos da indústria brasileira afetados pelas tarifas do republicano são o aço e o alumínio. O país enfrenta uma barreira de 25%, com a taxação desses dois produtos, desde a segunda semana de março. A medida afeta todos os parceiros comerciais do Brasil.
“Considerando o plano de fundo global, o Brasil terá um impacto bem menor em comparação com outros parceiros importantes dos EUA como União Europeia e Japão. Com certeza, a taxação do aço e do alumínio preocupam mais [que a taxa de 10%], por conta do volume exportado para os EUA”, afirma a pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos, Carolina Silva Pedroso.
As exportações brasileiras de aço e alumínio para os Estados Unidos têm desempenhado um papel significativo no comércio exterior do Brasil.
No primeiro trimestre de 2025, os EUA foram responsáveis por quase metade dessas exportações, totalizando US$ 1,52 bilhão, o que representa 47% do total exportado pelo Brasil nesse período.
Economistas apontam que a busca constante por diversificação de parcerias, consolidada desde a década de 2000, tem sido importante para minimizar os possíveis efeitos adversos na economia brasileira.
Desaceleração econômica
A medida anunciada por Trump gerou instabilidade nos mercados globais, levando a uma queda nas bolsas de valores e aumentando os temores de desaceleração econômica.
O fenômeno da recessão econômica pode se derivar de fatores como guerras comerciais, choques econômicos e instabilidade política. O período é caracterizado pela redução o Produto Interno Bruto (PIB) por dois trimestres consecutivos.
“Os Estados Unidos é a maior economia desde a guerra fria, eles possuem os organismos multilaterais e a própria segurança. Esperamos uma desaceleração econômica dos países e, em alguns contextos, um aumento de inflação. É um efeito escadinha, que repercute no aumento das taxas de juros e os novos investimentos”, afirmou o economista da IBMEC Willian Baghdassarian.
Na sexta-feira, os principais índices acionários da Ásia e da Europa encerraram em forte queda, em repercussão ao “tarifaço”. As bolsas dos EUA derretem 10% na semana e perderam US$ 6 trilhões em valor de mercado em apenas dois dias.
No Brasil, o dólar subiu mais de 3% na última sexta-feira e encerrou cotado a R$ 5,83, no maior valor em quase um mês. O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, fechou com queda de 2,96%, aos 127.256 pontos.
“A recessão poderá reduzir a entrada de capital estrangeiro no Brasil, tanto especulativo como o investimento direto no país, dificultando o financiamento da dívida pública, bem como os investimentos no setor produtivo. E para manter a atratividade para o capital estrangeiro, em especial o especulativo, o BC teria que elevar mais ainda a taxa de juros”, afirmou o economista do Instituto de Ensino e Pesquisa, Otto Nogomi.
O principal motivo dessa movimentação nos mercados é a cautela dos investidores quanto aos efeitos das novas tarifas de Trump na economia global.
De acordo com o GDPNow do Federal Reserve Bamk Atlanta, a previsão é de uma queda de 2,8% no PIB americano. O PIB dos EUA não encolhe mais de 2,8% desde o segundo trimestre de 2020, quando caiu 32,9% com o lockdown global causado pela pandemia de COVID-19.
Mais produtos chineses na praça
Os Estados Unidos e a China são grandes potências econômicas mundiais. A China é o maior exportador mundial, o país alcançou US$ 5,9 trilhões em exportações no último e mantém relações comerciais com 150 economias ao redor do mundo.
As reações dos países nos últimos dias apontam para um cenário de uma guerra comercial, depois que o presidente americano, Donald Trump, impôs na quarta-feira (9) tarifas de mais de 100% sobre as importações de produtos chineses.
Ainda no mesmo dia, autoridades chinesas anunciaram elevação de suas tarifas de importação de produtos americanos para 84%.
Em decorrência do desgaste das relações entre os países, as exportações entre a China e os americanos tendem a diminuir paulatinamente, o que ocasionaria uma ‘inundação’ de produtos chineses para outros mercados mundiais.
“Com toda certeza, a China não vai parar de produzir. Dessa forma, o país terá que escoar a produção para outros setores e lugares do mundo. Primeiro, é inegável a capacidade de produção da China, é uma grande potência industrial e ela não vai diminuir essas produções. O fator faz com que o país asiático busque interseções com outros mercados”, afirma a doutora em direito das relações econômicas internacionais Priscila Caneparo.
A China se consolidou como a maior potência industrial do mundo, sendo responsável por quase 30% da produção manufatureira global.
Outro fator observado é diminuição da entrada de dólares no Brasil, o que causaria a valorização do câmbio e os produtos importados poderiam ficar mais caros no bolso do consumidor.
“A China de fato vai ter um excedente de produtos e vai ter que vender em algum lugar. Os produtos chineses vão cair de preço, por uma questão de oferta e demanda, na medida que eu tenho menos pessoas consumindo o produto, vou ter mais oferta de produtos chineses” considerou Willian Baghdassarian.
A competitividade econômica e a tensão entre China e Estados Unidos se intensificam desde o primeiro mandato de Trump. Em janeiro de 2018, o presidente Donald Trump impôs tarifas sobre importações chinesas, alegando práticas comerciais desleais e roubo de propriedade intelectual.
Eventuais oportunidades
Mais competitividade para produtos brasileiros
Se por um lado as taxações podem dificultar as exportações brasileiras, por outro, ela pode abrir novas oportunidades de comércio para o Brasil. Os especialistas avaliam que se a China deixar de importar insumos dos Estados Unidos, pode abrir o mercado de exportações nacionais.
“Se como retaliação ao tarifaço, além de aderir às tarifas proporcionais, as relações com a China se desgastassem. O Brasil poderia se beneficiar das importações da China, que irão precisar de um novo mercado, principalmente se eles parassem de importar soja, algodão e milho”, afirmou o economista do Instituto de Mercado de Capitais (IBMEC) Willian Baghdassarian.
O Brasil é o maior produtor de soja do mundo. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a expectativa é de que o país produza 169 milhões de toneladas, até maio de 2025, quando finaliza a safra 2024/25.
Já os Estados Unidos, estão em segunda colocação e irão produzir, de acordo com o levantamento, 121,11 milhões de toneladas do produto.
“Como as exportações de outros países vão pagar taxas bem mais elevadas do que as do Brasil, pode ser que em alguns casos os produtos brasileiros se tornem mais competitivos. Mas tudo isso vai depender do que de fato acontecer nos próximos meses e de como os países irão reagir”, afirmou o economista.
Dinâmica no comércio mundial
As tarifas anunciadas por Trump provocam um redesenho da economia mundial, visto que os países podem procurar novas parcerias para intensificarem as relações comerciais.
“As crises movem as peças do jogo. Nesse novo equilíbrio global com países como China, Rússia e India com maior protagonismo, o Brasil pode se beneficiar e aumentar a sua relevância econômica mundial”, considerou o economista do Instituto de Mercado de Capitais (IBMEC) Willian Baghdassarian.
A China, o Japão e a Coreia do Sul têm se reunido para discutir estratégias em resposta às tarifas impostas pelos Estados Unidos. Os três países concordaram em acelerar as negociações para um acordo trilateral de livre comércio.
Os países são grandes potências econômicas da Ásia, mas suas relações são complexas e marcadas por rivalidades históricas, disputas territoriais e interesses estratégicos divergentes.
As ações individualistas do governo americano provocam e quebram as regras de comércio integrado e cooperativo, estabelecidas após a segunda guerra mundial, durante a Conferência de Bretton Woods. Na época, ocorreu a institucionalização do padrão dólar, a criação do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Os pilares do comércio eram a integração do mercado, a partir do momento que a gente vê a maior economia do mundo se fechando para si, observamos que não estamos ais em um mundo de cooperação e sim em um mundo de coordenação, onde os Estados só firmam aquilo que lhes interessam, o que provoca o individualismo”, afirmou a doutora em direito das relações econômicas internacionais Priscila Caneparo.
Fortalecimento União Europeia e Mercosul
Enquanto os EUA adotam medidas protecionistas, outros países podem fechar acordos comerciais bilaterais ou regionais para impulsionar seu comércio.
Um exemplo é a aceleração do acordo entre União Europeia e Mercosul, cujas negociações se concluíram no fim de dezembro de 2024. O acordo agora precisa ser assinado e ratificado pelos países membros do Mercosul e da União Europeia.
“A partir do EUA tem uma postura protecionista, a União Europeia, que é um grande parceiro dos Estados Unidos, vai buscar outros estados e ter uma relação estável com esses outros mercados. A consequência vai ser encadeada, o Mercosul se torna mais atrativo”, afirmou Caneparo.
O principal benefício do acordo para o Brasil é o acesso ampliado ao mercado europeu. A União Europeia é um dos maiores mercados do mundo. Com a eliminação de tarifas alfandegárias e outras barreiras comerciais, provenientes do acordo que será assinado pelos grupos, o mercado brasileiro seria beneficiado.
Coordenação internacional
Um dos efeitos do anúncio é a perda de credibilidade por parte do governo americano. A potência, desde a guerra fria, está ligada a grandes decisões mundiais, assim como a deliberação de dinâmicas multilaterais e geopolíticas.
“Agora, com essas mudanças, mesmo que haja um retorno ao status anterior, a confiança estará quebrada e os esforços de coordenação internacional serão muito mais difíceis, complicando a integração entre os países. Com a falta de um líder organizador da economia mundial, os países irão focar em seus próprios interesses”, afirma o economista do Instituto de Mercado de Capitais (IBMEC) Willian Baghdassarian.
O país descumpriu o princípio do livre comércio, estabelecido pela Organização Mundial do Comércio (OMC). A regra prevê que todos os países-membros devem ser tratados de forma igualitária. Ou seja, tarifas seletivas quebram a norma.
Fonte: G1 Read More