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14/04/2025O Assunto #1447: A grande depressão econômica do século 20
14/04/2025
Agora que o presidente Donald Trump abalou as relações com a Europa e passou a usar a energia como moeda de troca, empresas europeias estão receosas de que a dependência dos EUA tenha se tornado outra vulnerabilidade. Ucrânia não renova contrato para gasoduto que liga Rússia à Europa
Reprodução/Jornal Nacional
Mais de três anos após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a segurança energética da Europa continua frágil.
O gás natural liquefeito (GNL) dos EUA ajudou a preencher a lacuna deixada pelo fornecimento russo durante a crise energética de 2022-2023.
Mas agora que o presidente Donald Trump abalou as relações com a Europa estabelecidas desde a Segunda Guerra Mundial e passou a usar a energia como moeda de troca em negociações comerciais, empresas europeias estão receosas de que a dependência dos Estados Unidos tenha se tornado outra vulnerabilidade.
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Nesse contexto, executivos de grandes empresas da União Europeia (UE) começaram a dizer o que seria impensável há um ano: importar parte do gás russo — inclusive da estatal Gazprom — pode ser uma boa ideia.
Isso exigiria uma grande mudança de política, já que a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 levou a União Europeia a prometer o fim das importações de energia russa até 2027.
A Europa tem opções limitadas. As negociações com o gigante do GNL, o Catar, para mais fornecimento estagnaram, e embora o uso de energias renováveis esteja acelerando, a taxa de implantação ainda não é rápida o suficiente para garantir segurança energética ao bloco.
“Se houver uma paz razoável na Ucrânia, poderíamos voltar a um fluxo de 60 bilhões de metros cúbicos, talvez 70 por ano, incluindo GNL”, disse Didier Holleaux, vice-presidente executivo da francesa Engie, em entrevista à Reuters.
O Estado francês possui participação na Engie, que antes da guerra era uma das maiores compradoras do gás da Gazprom. Holleaux disse que a Rússia poderia suprir cerca de 20 a 25% das necessidades da UE, abaixo dos 40% anteriores ao conflito.
O CEO da gigante petrolífera TotalEnergies, Patrick Pouyanné, alertou a Europa contra a dependência excessiva do gás dos EUA.
“Precisamos diversificar, ter várias rotas, não depender demais de uma ou duas fontes”, disse Pouyanné à Reuters.
A Total é grande exportadora de GNL dos EUA e também comercializa GNL russo da empresa privada Novatek.
“A Europa nunca voltará a importar 150 bilhões de metros cúbicos da Rússia como antes da guerra… mas eu apostaria em algo como 70 bcm”, completou.
Virada alemã
A França, que gera grandes quantidades de energia nuclear, já possui uma das matrizes energéticas mais diversificadas da Europa.
A Alemanha, por outro lado, dependia fortemente do gás russo barato para impulsionar seu setor industrial e tem menos alternativas.
No parque químico de Leuna, um dos maiores clusters industriais da Alemanha, onde operam empresas como Dow Chemical e Shell, alguns representantes defendem o rápido retorno do gás russo.
Antes da guerra, a Rússia atendia 60% da demanda local, principalmente através do gasoduto Nord Stream, que foi explodido em 2022.
“Estamos em uma crise severa e não podemos esperar”, disse Christof Guenther, diretor administrativo da InfraLeuna, operadora do parque.
Ele afirmou que a indústria química alemã cortou empregos por cinco trimestres consecutivos, algo que não se via há décadas.
“Reabrir os gasodutos reduziria os preços mais do que qualquer programa atual de subsídios”, disse.
“É um tema tabu”, acrescentou Guenther, observando que muitos colegas concordam com a necessidade de retomar as importações de gás russo.
Quase um terço dos alemães votou em partidos favoráveis à Rússia nas eleições federais de fevereiro.
No estado de Mecklenburg-Vorpommern, no leste da Alemanha — onde o gasoduto Nord Stream chega após atravessar o Mar Báltico —, 49% da população quer a retomada do fornecimento de gás russo, segundo uma pesquisa do instituto Forsa.
“Precisamos do gás russo, precisamos de energia barata — não importa de onde venha”, disse Klaus Paur, diretor da Leuna-Harze, empresa petroquímica de médio porte localizada no parque de Leuna. “Precisamos do Nord Stream 2 para manter os custos energéticos sob controle.”
A indústria quer que o governo federal encontre energia barata, disse Daniel Keller, ministro da Economia do estado de Brandemburgo — onde está localizada a refinaria de Schwedt, co-propriedade da estatal russa Rosneft, mas atualmente sob tutela do governo alemão.
“Podemos imaginar retomar a entrada ou o transporte de petróleo russo após o estabelecimento da paz na Ucrânia”, afirmou Keller.
O fator Trump
O gás dos EUA representou 16,7% das importações da UE no ano passado — atrás da Noruega (33,6%) e da Rússia (18,8%).
A participação da Rússia deve cair para menos de 10% este ano após a Ucrânia encerrar o uso de gasodutos. Os fluxos restantes são principalmente de GNL da Novatek.
A UE está se preparando para comprar mais GNL dos EUA, enquanto Trump pressiona a Europa a reduzir seu superávit comercial com os EUA.
“Com certeza, vamos precisar de mais GNL”, disse o comissário de Comércio da UE, Maros Sefcovic, na semana passada.
A guerra tarifária reforçou as preocupações da Europa com a dependência do gás americano, disse Tatiana Mitrova, pesquisadora do Centro de Políticas Energéticas Globais da Universidade Columbia.
“Está se tornando cada vez mais difícil ver o GNL dos EUA como uma commodity neutra: em algum momento, ele pode virar uma ferramenta geopolítica”, disse Mitrova.
Se a guerra comercial se intensificar, há um pequeno risco de que os EUA limitem suas exportações de GNL, segundo Arne Lohmann Rasmussen, analista-chefe da Global Risk Management.
Um diplomata sênior da UE, sob condição de anonimato, concordou: “Ninguém pode descartar que essa alavanca seja usada”.
Se os preços domésticos do gás nos EUA dispararem devido à crescente demanda industrial e pelo uso de IA, os EUA poderiam restringir exportações para todos os mercados, alertou Warren Patterson, chefe de estratégia de commodities do ING.
Em 2022, a UE definiu uma meta não vinculativa de encerrar as importações de gás russo até 2027, mas já adiou duas vezes a publicação de um plano para isso. Um porta-voz da Comissão Europeia se recusou a comentar as declarações das empresas.
Arbitragem
Várias empresas da UE abriram processos de arbitragem contra a Gazprom por não cumprimento de contratos após a guerra na Ucrânia.
Tribunais concederam à alemã Uniper e à austríaca OMV indenizações de 14 bilhões de euros e 230 milhões de euros, respectivamente. A alemã RWE reivindicou 2 bilhões de euros, enquanto Engie e outras empresas não divulgaram seus pedidos.
Didier Holleaux, da Engie, disse que Kiev poderia permitir que a Rússia envie gás via Ucrânia como forma de quitar as indenizações arbitrais — um possível início de retomada dos contratos com a Gazprom.
“Vocês (Gazprom) querem voltar ao mercado? Muito bem, mas não assinaremos novo contrato se não pagarem o que devem”, afirmou Holleaux.
O possível retorno do gás russo preocupa Maxim Timchenko, CEO da DTEK, empresa privada de energia da Ucrânia, que espera importar GNL dos EUA para armazenamento em território ucraniano e posterior exportação à Europa.
“É difícil comentar, sendo ucraniano, mas minha esperança é que os políticos europeus tenham aprendido suas lições ao lidar com a Rússia”, disse Timchenko.
Fonte: G1 Read More