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Segundo especialistas, a presença ativa nas redes sociais se tornou praticamente obrigatória para profissionais de diversas áreas. Porém, é importante ter alguns cuidados ao compartilhar o trabalho nesses ambientes. Como as redes sociais viraram vitrine obrigatória para profissionais de todas as áreas
Médicos, advogados, professores, juízes e até pedreiros: profissionais de diversas áreas estão cada vez mais ativos nas redes sociais. O que antes se concentrava apenas no LinkedIn, agora também ocupa espaços em outras plataformas como o TikTok e Instagram.
🤔 Mas porque isso vem acontecendo? Segundo especialistas ouvidos pelo g1, essa tendência é reflexo da “plataformização do trabalho”, processo em que as plataformas digitais moldam as práticas profissionais e redefinem as formas de visibilidade. (veja mais abaixo)
Ou seja: esse fenômeno faz com que os trabalhadores sejam praticamente obrigados a estar ativos nas redes sociais.
Profissionais ouvidos pelo g1, que supostamente não seriam obrigados a ter presença nas redes sociais, relatam que estavam “quase escondidos” no mercado antes de começarem a compartilhar o trabalho nessas plataformas.
Entre os clientes, a forma de procurar um especialista se transformou. Médicos e advogados, por exemplo, antes buscavam atrair clientes por meio de panfletos, cartazes ou anúncios nas ruas. Hoje, quem não está nas redes sociais, simplesmente “não existe”.
‘Sem redes sociais, você fica invisível’: como as plataformas têm obrigado profissionais a produzir conteúdo
Arte/g1
“Se você não está na internet, o mundo não te vê. É como se a gente estivesse entocado numa caverna se não divulgarmos o nosso trabalho”, explica a advogada criminalista Aline de Oliveira Soares, de 26 anos, que atrai cerca de 90% dos seus clientes por meio das redes.
Desde a faculdade, a paulista utiliza o Instagram para compartilhar conteúdos jurídicos voltados ao direito criminal, inicialmente como forma de estudar e auxiliar outros colegas da área — o que já a ajudou a construir uma base de seguidores e potenciais clientes.
Com o passar do tempo, principalmente depois que se formou, Aline passou a produzir vídeos mais informativos, com curiosidades sobre o direito criminal, o dia a dia de uma advogada criminalista e até memes.
A virada de chave aconteceu quando ela decidiu migrar para o TikTok. Aline passou a editar e postar vídeos curtos por incentivo de outras pessoas, sem grandes expectativas.
A advogada criminalista Aline de Oliveira Soares tem mais de 245 mil seguidores nas redes sociais.
Reprodução/Instagram
“Eu só entrava, postava e deixava lá. Até que viralizou sozinho”, lembra. Aline já acumula mais de 245 mil seguidores na rede, e os vídeos sobre o cotidiano da advogada criminalista passam de 3,7 milhões de curtidas.
Por lá, diferentemente do Instagram, existe a famosa monetização, em que os criadores ganham dinheiro por meio da própria plataforma se os vídeos fazem sucesso. (veja como fazer)
Após atingir 10 mil seguidores, Aline passou a receber por postagens que faz por lá. Mas os ganhos ficam entre R$ 200 e R$ 3 mil por mês, e não serviriam para viver como influencer.
A advogada considera que a presença online não é uma obrigação, mas uma oportunidade facilitada pela tecnologia. “Antes, era muito mais difícil divulgar o trabalho. Hoje, com um post no Instagram, você alcança muito mais do que colando um panfleto no poste”, diz.
“Além de estudar, se formar, passar na OAB, hoje a gente também precisa virar marqueteiro ou blogueiro. Mas é muito mais fácil: é melhor fazer um post no Instagram do que colar panfletos na rua. Isso abre muitas portas e eu sou totalmente a favor”, explica.
⚠️Concursados também estão nas redes
🤔 Se as redes são uma estratégia de autopromoção, o que explica os concursados, que não necessariamente precisam atrair clientes, também estejam ativos nas redes sociais?
O juiz federal Kleiton Alves Ferreira, que atua em Alagoas na área de Direito Previdenciário, com foco em processos de aposentadoria rural, diz que a ideia inicial era usar as redes para divulgar o seu trabalho como escritor e professor de concursos públicos.
Mas, desde 2023, ele compartilha trechos de audiências públicas e conteúdos sobre sua rotina profissional nas mídias sociais, como forma de humanizar a justiça, desmistificar a figura do juiz e tentar aproximar o judiciário da sociedade.
“Eu queria mostrar que a justiça também pode ser conduzida de forma mais leve, humana, sem aquela formalidade excessiva que muitas vezes afasta as pessoas. Muita gente tem medo de juiz. Mostrar meu trabalho ajuda a quebrar esse medo”, explica.
Hoje, ele acumula mais de 1,7 milhões de seguidores somente no TikTok, e tem cerca de 18,2 milhões de curtidas nas postagens. Apesar da visibilidade, Kleiton já deixou claro que não pretende deixar a carreira de juiz para ser influenciador digital.
“A rede social é como uma casa que a gente aluga: a qualquer momento, o dono pode pedir de volta. Não quero ser refém disso. Minha prioridade é ser juiz, depois escritor e professor”, afirma o magistrado.
O juiz federal Kleiton Ferreira também viralizou mostrando seu dia a dia e desmistificando a Justiça.
Reprodução/Instagram
Mesmo reconhecendo o potencial positivo dos ambientes online para aproximar a Justiça das pessoas, Kleiton relata os efeitos negativos da exposição. “As mídias sociais são perversas. Já passei um mês sem postar nada, para fazer um detox”, conta.
Diferente da advogada, o juiz é verificado no TikTok e, por isso, não recebe monetização pelos conteúdos publicados na plataforma. Segundo ele, a renda recebida com visualizações – cerca de R$ 500 mensais pelo YouTube – é destinada a ações filantrópicas.
“Se eu dependesse disso, passaria fome”, brinca o juiz. Para Kleiton, a prioridade é clara: primeiro a magistratura, depois a literatura e o ensino. “Se um dia eu deixar a magistratura, será para ser escritor em tempo integral, jamais para ser influenciador.”
📳Pandemia x plataformização do trabalho
Segundo Issaaf Karhawi, professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), essa tendência de diferentes profissionais ativos nas redes faz parte da “plataformização do trabalho”, e de como as formas de comunicação mudaram com o avanço da tecnologia.
Desde sempre, profissionais como médicos e arquitetos usaram formas de comunicação para divulgar seu trabalho, seja com panfletos, cartões de visita ou participando da mídia, como comentaristas e colunistas. O que vivemos hoje é uma intensificação desse movimento, com foco nas redes sociais.
A pesquisadora destaca que o movimento da plataformização do trabalho é diferente da uberização – que trata dos trabalhadores que dependem das plataformas (como motoristas e entregadores).
“Quando eu penso plataformização, estou falando de quase todo o mundo, porque em certa medida, todos nós somos impactados pela dinâmica das plataformas, já que elas penetram em várias camadas da nossa vida — saúde, trabalho e até relacionamentos amorosos”, diz.
De acordo com Issaaf, esse processo também muda a forma como profissionais se comunicam, se promovem e até se legitimam. “A mudança no mercado e na atuação profissional tem relação com a plataformização do trabalho”.
Para a pesquisadora, a pandemia de Covid foi um dos principais catalisadores desse movimento. Com o isolamento, muitos profissionais precisaram usar as redes como única forma de divulgar seus serviços e manter uma fonte de renda.
“Talvez a gente fosse viver tudo isso de alguma maneira, mas a gente está vivendo agora. Eu tenho a sensação que esse processo foi acelerado por conta da pandemia. A necessidade de a gente levar o trabalho para outros lugares”, afirma.
Outro ponto levantado pela especialista é que a nossa sociedade é organizada pelo imperativo da visibilidade. Esse fenômeno é uma convocação implícita, mas muito evidente, que o indivíduo precisa ser visto e reconhecido em tempo integral nas mídias sociais.
“Em uma sociedade da visibilidade, o sujeito que vive fora desse aspecto é invisibilizado. Não é à toa que a gente se espanta quando alguém diz que não tem redes sociais. Porque existe esse imperativo: é preciso estar visível. Então, não é estranho ouvir profissionais dizendo que, antes das redes sociais, se sentiam invisíveis na profissão”, explica.
Como as plataformas têm obrigado profissionais a produzir conteúdo nas redes.
Arte/g1
🤳🏼 ‘Chefe invisível’: o algoritmo
Quem passou a produzir conteúdo nas redes – mesmo que apenas para divulgar um serviço – também se tornou um trabalhador da plataforma. Isso significa estar submetido às regras invisíveis dos algoritmos, que definem o que pode ser falado, como e quando.
Issaaf destaca que as grandes plataformas digitais têm regras próprias, muitas vezes pouco transparentes, que influenciam diretamente quem produz conteúdo. Ela aponta que esses criadores acabam assumindo um “terceiro turno” de trabalho.
Esse patrão disfarçado é o algoritmo, “Quando começamos a divulgar algo nas plataformas, assinamos um contrato tácito. O algoritmo passa a ser esse chefe invisível, que decide se entrega ou não o nosso conteúdo, o que podemos ou não falar”, destaca Issaaf.
Ou seja: os profissionais precisam se adaptar a essas regras, que nem sempre estão claras, além das restrições éticas impostas pelos conselhos e regulamentações de cada classe. É o caso do médico infectologista Ricardo Kores, de Uberlândia, Minas Gerais.
O profissional ficou famoso nas mídias sociais ao falar de maneira leve e bem-humorada sobre temas considerados tabus, como as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), usando a internet como ferramenta de educação em saúde.
Porém, ele precisou se adaptar ao formato das plataformas.“Se eu usar os termos técnicos como ‘pênis’ ou ‘vagina’ nas redes sociais, o algoritmo bloqueia, interpretando como se fosse conteúdo pornográfico ou impróprio”, explica.
Por isso, o médico passou a usar analogias e frases bem humoradas, como “lavar o pirulito”, “fogo na bruschetta” e “cuidado com leite no olho”. Nas redes, Ricardo também passou a entrar em assuntos que estão bombando na internet, como o show da Lady Gaga.
Dessa forma, o infectologista se comunica de maneira acessível, especialmente com os jovens, público mais vulnerável às ISTs. “Como médicos, precisamos estar onde a sociedade está e hoje, é no meio digital, não há escapatória”, diz.
“O mundo vai mudando, a gente tem que se adaptar também, gostando ou não gostando”, completa o médico. Em 2022, quando chegou em Uberlândia e abriu o próprio escritório, Ricardo buscou nas redes uma forma de se apresentar à sociedade de forma mais direta.
O médico infectologista Ricardo Kores ficou famoso nas mídias sociais ao falar de maneira leve e bem-humorada sobre temas considerados tabus.
Reprodução/Instagram
O profissional percebeu que estar apenas em catálogos, por exemplo, não seria suficiente. “No catálogo, você vê só a foto e o nome, mas não sabe como a pessoa se comunica, como trabalha ou como se apresenta para a sociedade. Nossa cultura é muito mais humana”, completa.
Por não ter muito conhecimento sobre as mídias sociais, Kores fez parceria com um publicitário da região e passou a estudar as redes. Em apenas seis meses, após iniciar a presença digital, já percebeu o impacto.
O médico notou um aumento significativo na procura pelos serviços, tanto presencialmente quanto via telemedicina. Ele passou a receber mensagens de pacientes de várias partes do Brasil, e muitos relataram que os vídeos ajudaram a entender melhor sobre saúde.
Hoje, somente no Tiktok, Ricardo acumula mais de 470 mil seguidores e cerca de 12,7 milhões de curtidas em seus conteúdos. Por fazer vídeos curtos, as publicações ainda não monetizam e ele não recebe verba das redes.
Porém, Ricardo projeta lançar vídeos mais longos no YouTube, o que pode gerar uma renda extra. Através das redes, o infectologista também passou a ser conhecido e convidado para dar palestras em universidades.
O médico destaca que segue as regras do Conselho Federal de Medicina, que proíbe a autopromoção direta e a recomendação de medicamentos nas redes. “Não posso falar ‘venha se consultar comigo’ ou indicar remédios específicos. Todo conteúdo precisa ter caráter educativo”, explica.
🤑 Uma grana extra cai bem
Além de profissionais que buscam formas de divulgar um produto ou serviço nas mídias digitais, existem casos de trabalhadores que tentam conseguir, de fato, uma graninha extra para complemento de renda.
É o caso da professora Júlia Costa, de 28 anos, moradora de Itatiba e docente na rede municipal de Campinas, ambos no interior de São Paulo. Além de complementar a renda, ela encontrou nas mídias sociais uma forma de se motivar a continuar nas salas de aula.
Desde 2023, a docente do ensino fundamental compartilha atividades pedagógicas, rotinas e conteúdos voltados para outros professores. “Eu encontrei nas redes sociais uma forma de me motivar e continuar levando atividades diferenciadas para sala de aula”, explica.
Inicialmente, Júlia produzia conteúdo sem retorno financeiro, conciliando dois períodos de trabalho em escolas, dando aulas de manhã e à tarde, com a produção de conteúdos para as mídias sociais na parte da noite.
A rotina exaustiva logo se transformou: com a venda de atividades pedagógicas em PDF, ela passou a ganhar uma renda complementar. “Hoje, graças ao meu trabalho nas redes, consigo trabalhar só meio período na escola. Sem isso, seria impossível”, afirma.
A professora do ensino fundamental Júlia Costa complementa a renda através das redes sociais.
Reprodução/Instagram
As atividades vendidas são sequências didáticas, jogos e recursos pedagógicos, com valores entre R$ 5,90 e R$ 10. Além dessas, ela também compartilha materiais gratuitos, além de fazer publicidades e parcerias de marcas ligadas à educação.
Júlia explica que nunca teve problemas com a divulgação de conteúdos, pois não expõe imagens dos alunos ou revela a escola onde trabalha. Segundo ela, as famílias e colegas de trabalho reconhecem a importância do conteúdo e apoiam a sua presença online.
“Nunca mostrei nenhuma criança nas minhas redes sociais, então toda a gravação que eu faço é somente a minha imagem ou mostrando somente a atividade em si. Nunca fiz um conteúdo que possa ofender a família ou a escola que eu trabalho”, explica a professora.
💡Uso das redes sociais de forma ética e estratégica
Luana Carvalho, diretora de comunicação da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-SP), afirma que é importante tomar alguns cuidados ao compartilhar conteúdo do trabalho nas redes. Por isso, o profissional:
🚫 Não pode publicar dados confidenciais;
🚫 Evite compartilhar produtos ou serviços que são lançamentos;
🚫 Não postar a tela do computador;
🚫 Não divulgar reuniões estratégicas;
🚫 Evitar abordar assuntos polêmicos;
🚫 Tomar cuidado com erros de português;
🚫 Não compartilhar notícias falsas;
🚫 Não postar informações que exponham pessoas específicas sem autorização;
‼️Se for apontar algo que enxerga de errado na empresa ou na profissão, faça isso em tom mais genérico. Sem “falar mal” de nenhuma empresa ou pessoa específica;
‼️ Cuidado com o humor. Ele é uma excelente ferramenta de comunicação e conexão. Mas é importante analisar o tom do humor utilizado para não passar uma imagem infantil.
De acordo com a especialista, é um “desafio criar bons conteúdos com frequência sem exagerar na hora de expor situações do cotidiano e impactar negativamente em alguma dessas frentes de trabalho”.
É importante checar se a empresa ou cliente tem alguma política própria de restrições em relação à conteúdos compartilhados. Inclusive contratos de prestação de serviço podem ter esse tipo de cláusula.
A especialista ainda defende o que pode ser postado (sem medo):
✅ Reflexões próprias, que são originadas da sua vivência, mas não como se fosse uma verdade absoluta;
✅ Sugestões, dicas de estudo e conteúdo para quem se interessa na área que você trabalha;
✅ Contar histórias de outras pessoas desde que sejam autorizadas ou contadas de uma forma que seja impossível de identificar os personagens;
✅ Expectativas e planos de carreira e trabalho. Compartilhar metas e seu dia a dia de estudo, organização e trabalho.
✍🏽Dicas para quem está começando
Para quem pensa em produzir conteúdos sobre a profissão nas redes sociais, a especialista Luana Carvalho traz algumas dicas, como:
📲 Defina qual objetivo ao postar conteúdo nas redes: Ter isso muito claro e se lembrar o tempo todo. É muito fácil cair nas métricas de vaidade das mídias digitais, como seguidores e número de curtidas.
📈 Evite cair nas métricas: Engajamento não é a métrica mais relevante para fechar negócios, conseguir clientes ou promoções. Tem muito mais relação com conseguir atingir as pessoas certas.
👩🏽💻Com um objetivo claro, tudo fica mais leve: Ter esse objetivo claro desde o primeiro dia faz com que criar conteúdo seja muito mais leve e deixa a escolha das estratégias muito mais assertivas.
📝 Busque referências alinhadas ao seu propósito: Vale conhecer e seguir orientações de especialistas que também têm objetivos parecidos com o seu. Assim você tem acesso às estratégias que funcionam no seu caso.
➡️ Investir no aprendizado: Faça cursos e sempre esteja atualizado. O mercado criativo está em constante evolução com novas ferramentas técnicas que exigem um portfólio em constante atualização.
😎 Crie uma presença online que seja capaz de ser uma extensão do seu portfólio e habilidades. Tenha um portfólio de “Instagram”, performer como um TikToker e planeje a sua carreira como profissional do Linkedin.
🤞🏽 Invista em networking: busque conexões com outros profissionais on e offline.
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