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Especialistas consultados pelo g1 ressaltam que anúncio gera incerteza para a economia da região de Piracicaba e preocupa diretamente os setores mais atuantes, como agroindústria, metalmecânico e, nos últimos 20 anos, indústria automotiva e tecnologia. Trump anuncia taxa de 50% ao Brasil
O anúncio da aplicação de tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode afetar diferentes setores da economia em cidades da região de Piracicaba (SP).
A nova taxa está prevista para entrar em vigor em 1º de agosto e, até a última quarta-feira (9), o valor previsto era a maior entre os 22 países listados.
Os especialistas consultados pelo g1 ressaltam que o anúncio gera incerteza para o economia regional, especialmente em Piracicaba, e preocupa diretamente os setores mais atuantes, como o da agroindústria, metalmecânico e, nos últimos 20 anos, na indústria automotiva e de tecnologia.
Os reflexos também poderão atingir a população em geral, em termos de consumo e renda.
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O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, de Material Elétrico, Eletrônico, Siderúrgicas e Fundições de Piracicaba, Saltinho e Rio das Pedras (Simespi), Erick Gomes, afirma que a decisão do governo “preocupa profundamente” o setor.
“Essa medida, com claros contornos políticos, impactará diretamente a indústria metalmecânica nacional e, em especial, as empresas de Piracicaba e região, que têm tradição exportadora. O aumento abrupto dos custos compromete a competitividade dos nossos produtos no mercado americano, gerando riscos de queda nas exportações, perdas financeiras e possível retração na geração de empregos”, declarou em nota.
O Simespi defende uma resposta rápida e coordenada entre setor produtivo e governo federal, buscando diálogo diplomático, compensações comerciais e apoio à diversificação de mercados.
“É preciso agir com firmeza para proteger a indústria, preservar empregos e garantir a continuidade do desenvolvimento regional”, concluiu.
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Claudia Assencio/g1
Pano de fundo político
Carlos Vian, professor e pesquisador do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), o campus da USP em Piracicaba, analisa que existe um elemento político, diferente do primeiro anúncio tarifário, feito no início do ano.
“Na verdade, tem um componente a mais, além do que era plano do presidente Donald Trump de reindustrialização americana, de atrair de volta setores que se tornaram importadores e mesmo empresas que, atualmente, produzem com unidades internacionais. Dessa vez, as medidas têm um conteúdo um pouco mais político”, aponta o pesquisador da USP.
Ao justificar a elevação da tarifa sobre o Brasil, Trump citou Jair Bolsonaro (PL) e disse ser “uma vergonha internacional” o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF).
Após o anúncio, o presidente Lula afirmou que o Brasil “não aceitará ser tutelado por ninguém” e que o aumento unilateral de tarifas sobre exportações brasileiras será respondido com base na Lei da Reciprocidade Econômica.
Planta da Caterpillar Brasil em Piracicaba
Claudia Assencio/ G1
Cenário de incerteza
Vian ressalta que cerca de 30% a 40% das exportações brasileiras, principalmente da indústria, são para o mercado norte-americano.
“Temos grandes empresas multinacionais americanas instaladas na região de Piracicaba, com estratégias inclusive de produção de equipamentos para abastecer o mercado mundial. Isso provoca grande incerteza sobre como vai ser o comportamento dessas exportações a partir de agosto. Se isso realmente se efetivar, os negócios dessas empresas serão afetados e poderá ter resultados danosos”, observa.
Centro de Piracicaba
Claudia Assencio/g1
Reflexos para a população regional
O economista e professor da área de Gestão do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), no campus de Piracicaba (SP), Igor Vasconcelos Nogueira, pontua que os reflexos da medida tarifária, caso seja efetivada, não se trata apenas de uma questão empresarial.
O especialista considera que o tarifaço poderá gerar consequências diretas também para a população, enquanto classe trabalhadora e consumidora. “Os impactos reverberarão diretamente na vida dos cidadãos”, alerta. Nogueira elencou os campos mais afetados. Leia, abaixo:
Emprego: “A diminuição das exportações para os EUA pode levar à estagnação ou, em casos mais drásticos, à redução de postos de trabalho nas indústrias e serviços ligados à exportação. Isso afeta não só o emprego direto, mas toda a rede de fornecedores e prestadores de serviço”, aponta o professor do IFSP.
Renda e Consumo: “Com menos empregos ou salários mais contidos devido à pressão competitiva, a renda disponível da população pode ser afetada, impactando o comércio local e o consumo”, disse.
Investimento Local: “A incerteza ou a menor atratividade do mercado exportador para os EUA pode desestimular novos investimentos em Piracicaba e região, freando o crescimento econômico e a geração de riqueza”, concluiu.
Brasil tem a maior tarifa
Editoria de arte do g1
‘Crise pode ser oportunidade’
Igor Nogueira elenca ainda quais são os desafios, as estratégias e caminhos possíveis para contornar o cenário e as oportunidades que se abrem na região de Piracicaba diante das novas barreiras comerciais impostas pelo Tarifaço de Trump.
“A região de Piracicaba, historicamente vocacionada para a agroindústria, o setor metalomecânico e, mais recentemente, a indústria automotiva e de tecnologia, possui uma interligação significativa com o mercado norte-americano”, afirma. Veja, abaixo, os setores mais afetados, segundo análise do especialista:
🌱Setor Sucroenergético: “Piracicaba e o entorno são epicentros da produção de açúcar e etanol. Embora as exportações de etanol para os EUA já enfrentem barreiras históricas e o açúcar tenha cotas específicas, um tarifaço generalizado pode, indiretamente, aumentar a pressão sobre o mercado doméstico ou desviar o foco de investimentos que antes consideravam o potencial de crescimento do mercado americano para outros fins. Além disso, derivados e produtos de maior valor agregado que busquem esse mercado enfrentarão um custo proibitivo”, diz.
🚜 Indústria Metalomecânica e de Máquinas Agrícolas: “A região abriga importantes fabricantes de máquinas e equipamentos. O documento “Tarifaco Trump” detalha que alguns segmentos industriais podem ser alvos diretos ou indiretos das novas taxas. Para o maquinário agrícola e componentes, que podem ser exportados, um aumento de 50% na tarifa de importação tornará os produtos de Piracicaba consideravelmente mais caros e menos competitivos frente a outros fornecedores ou à produção interna americana. Isso pode levar à perda de contratos e, consequentemente, à redução da produção local”, pontua.
🏭Pequenas e Médias Empresas (PMEs) Exportadoras: As notícias sobre exportações da região mostram um crescente número de PMEs buscando o mercado internacional, segundo Nogueira. “Essas empresas, muitas vezes com menor capacidade de absorver choques de custo, serão as mais vulneráveis. O aumento repentino e expressivo das tarifas pode inviabilizar suas operações de exportação para os EUA, forçando-as a buscar novos mercados de forma emergencial, o que demanda tempo e investimento”, avalia.
👨🏭Cadeia Logística e de Serviços: Indiretamente, o setor de transportes, armazenagem e serviços de comércio exterior em Piracicaba sentirá a retração. “Menos mercadorias exportadas significam menos demanda por esses serviços, impactando toda a cadeia de valor”, analisa Nogueira.
Novos mercados
O professora ainda aponta que a dependência do mercado americano precisa ser urgentemente reduzida. “É o momento de prospecção e consolidação de novos mercados. Países da América Latina, a pujante União Europeia, os gigantes asiáticos (especialmente China e Índia) e as nações africanas em crescimento representam alternativas viáveis e promissoras”, detalha.
“Além disso, a história econômica da nossa região demonstra resiliência e uma notável capacidade de adaptação. A crise pode e deve ser um catalisador para a reestruturação e o fortalecimento de nossa economia, abrindo portas para oportunidades antes menos exploradas”, pondera.
Agronegócio
Pensando no Brasil como um todo para o agronegócio, porque o país é exportador de uma série de produtos para os Estados Unidos.
“Exportamos açúcar, exportamos alimentos, eventualmente são exportações esporádicas, mas eventualmente exportamos etanol. Temos uma negociação da parte de proteína animal bastante irrelevante e essas tarifas vão realmente afetar aí o processo”, aponta Carlos Vian, da Esalq.
“Espero que o governo brasileiro, embora tenha reagido pelo lado da retaliação, possa se equalizar e partir para uma negociação com os americanos para tentar reverter essas tarifas”, concluiu.
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Suco de laranja 🍊
O volume de suco de laranja exportado pelo Brasil na safra 2024/25, que se encerrou em junho deste ano, foi o menor em quase 30 anos, mas a receita com os embarques foi recorde. O futuro do setor de citrus, no entanto, segue incerto. Agentes do mercado nacional demonstram incerteza quando o assunto é o novo tarifaço anunciado pelo Presidente Donald Trump. – Entenda mais, abaixo.
Na comparação com a safra anterior, a receita cresceu 28,4%, totalizando US$ 3,48 bilhões, conforme dados do boletim do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) do campus da USP em Piracicaba (SP), divulgado nesta sexta-feira (11).
Oferta restrita: apesar do cenário de incerteza quanto à recuperação plena do consumo externo de suco e de uma safra ‘turbulenta’, nas palavras dos pesquisadores da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq-USP), o impacto da elevação de 10% nas tarifas foi minimizado pela oferta restrita do Brasil, que sustentou os embarques.
Carta de Trump ao Brasil tem a tarifa mais alta
Agentes do setor de citricultura, consultados pelo Cepea, demonstraram receio de que demanda internacional não se restabeleça completamente.
“Ora devido à estagnação do consumo, ora pelos efeitos ainda indefinidos dos aumentos tarifários implementados pelo governo Trump sobre produtos brasileiros”, analisam.
“No entanto, permanece incerta a magnitude dos efeitos de um possível aumento tarifário para patamares de até 50% sobre o suco de laranja, especialmente diante da perspectiva de maior produção nacional nas próximas temporadas”, destacam.
Assim, ainda conforme o Centro de Pesquisas, o acúmulo de divisas oriundas das exportações na temporada 2024/25 foi extremamente favorável, permitindo ao setor uma capitalização importante frente aos desafios futuros.
Suco de laranja tem menor volume exportado na safra 24/25, mas atinge receita recorde
Jornal Nacional/ Reprodução
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Fonte: G1 Read More