
Tarifa dos EUA dificulta retomar equilíbrio entre déficit em conta corrente e IDP
10/08/2025
A sobretaxa de 50% aplicada pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros entrou em vigor no dia 6 de agosto e tem gerado apreensão no setor — que aguarda os primeiros dados do governo sobre as exportações nesta segunda-feira (11).
Paralelamente, o Executivo trabalha em um plano de contingência, isto é, uma lista de medidas para conter o impacto das tarifas impostas. A previsão é que essas ações contemplem, por exemplo, linhas de crédito e adiamento de cobrança de tributos.
O governo ainda não divulgou oficialmente a proposta, o que deve ocorrer até esta terça (12). Para entender melhor esse cenário e o que está por vir, o g1 ouviu especialistas e entidades representativas (veja mais abaixo).
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O presidente-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, afirma que será possível ter uma noção do impacto assim que sair, nesta segunda, o balanço das exportações da última semana.
Isso ocorre, ele explica, pois cada empresa envia informações da sua operação para o sistema do governo, que contabiliza todos os registros. De todo modo, ele avalia que o cenário “não é bom”.
A alíquota imposta pelo presidente norte-americano, Donald Trump, atinge cerca de 36% das exportações brasileiras ao país, o que corresponde a US$ 14,5 bilhões em 2024. Itens como café, frutas e pescado estão inclusos no que tem sido chamado de “tarifaço”.
Segundo Castro, na última semana de julho foi observada uma diminuição da média das exportações aos Estados Unidos.
“Era um sintoma porque este ano, de março até o mês de julho, a média de exportação foi superior a R$ 1,4 bilhão, e, nessa última semana, chegou a R$ 1,4. Então, na verdade, já mostrou que o fôlego estava acabando e deve começar a cair o preço e a quantidade também”, projetou.
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Rodrigo Felix Leal/SEIL
Plano de contingência
O governo federal trabalha em um plano de contingência que deve ser apresentado nesta semana. A ideia é apoiar pequenas e médias empresas.
Como mostrou o g1, as medidas devem contemplar linhas de crédito, adiamento das cobranças de tributos e contribuições federais, além de compras públicas de mercadorias perecíveis.
O Executivo tem repetido que o objetivo do pacote é dar fôlego aos setores afetados pelo tarifaço e proteger a economia e os empregos.
Um dos responsáveis pela articulação do plano, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, afirmou neste sábado (9) que o governo lançará um “programa bem amplo”.
Para a economista e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carla Beni, “o peso do problema será o peso do Estado para resolvê-lo”.
Carla menciona a reportagem da revista britânica “The Economist” que afirmou que as tarifas de Donald Trump sobre o Brasil “são mais ameaça do que impacto real”.
Na avaliação da reportagem, os efeitos do tarifaço serão moderados. Em um dos trechos da publicação, a revista afirma que o Brasil pode ter evitado o pior por enquanto.
O país exporta pouco em relação ao seu Produto Interno Bruto (PIB) — bem menos que o México ou importantes economias asiáticas, e sua dependência do mercado americano caiu para 13% das exportações.
A The Economist também frisa que as tarifas são uma retaliação política, não econômica — motivada pela situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro, alvo de investigação na trama golpista.
Foco em quem precisa mais
Na avaliação de Beni, o plano deve ser separado em três esferas: federal, estadual e municipal. Ela contextualiza: “tem que ser realmente no segmento que está sofrendo um problema, ouvir aquele segmento, saber das necessidades e ter um prazo para terminar porque isso não é uma ajuda eterna”, ponderou.
Além disso, ela entende que o governo federal precisa se preocupar com as questões fiscais. “Não é um caso como no Rio Grande do Sul, que você tem que fazer um aporte, pessoas morrendo, ajuda que teve que sair da regra fiscal”, explicou.
Robson Gonçalves, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), vai na mesma linha e defende que as medidas precisam ser suficientemente alinhadas para ajudar as empresas que realmente tenham impacto em virtude da elevação da tarifa.
Ele também destaca que o plano de contingência deve ser acompanhado de uma política mais agressiva de abertura de mercado aos produtos brasileiros no exterior.
“A gente precisa de uma política de mais médio e longo prazos. Algo que não se improvisa, mas que precisa ser discutida o mais rapidamente possível, de maior intensificação da agenda de diversificação”, acrescentou.
Segundo o especialista, o Brasil não tem uma política de comércio exterior forte. “No papel tudo funciona, mas não temos uma política agressiva e articulada de comércio exterior. Agora será preciso ter”, argumentou.
Fonte: G1 Read More