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10/08/2025
Conheça a juçara, árvore da Mata Atlântica de onde se tira palmito e com fruto igual açaí
A colheita da juçara está a todo vapor em Rio Novo do Sul, no Sul do Espírito Santo. Considerada a “capital capixaba da juçara”, a cidade concentra hoje a maior produção d palmeira Euterpe edulis no estado. Nativa da Mata Atlântica, a árvore de onde se tira palmito também produz um fruto cuja polpa lembra — e muito — o sabor do tradicional açaí do Pará.
Durante a safra, que vai de abril a agosto, cerca de 200 produtores movimentam o mercado com a colheita de aproximadamente 200 toneladas por mês, segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
A expectativa para este ano é de crescimento de 20% na produção.
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A palmeira, que quase desapareceu da natureza devido à extração do palmito, agora representa uma alternativa sustentável e lucrativa para agricultores familiares. Com apoio de iniciativas, como a Rede Juçara-ES, coordenada pelo Incaper, o cultivo do fruto vem se expandindo e ganhando mercado.
Conheça a juçara, árvore da Mata Atlântica de onde se tira palmito e com fruto semelhante o açaí. No Espírito Santo, Rio Novo do Sul concentra hoje a maior produção do estado da palmeira Euterpe edulis.
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Do palmito ao suco: uma nova história para a juçara
A história da juçara em Rio Novo do Sul envolve também a memória afetiva e transformação. O produtor Pedro Bortolotti cultiva a planta há mais de 30 anos, após o pai iniciar o plantio perto de casa.
“Meu pai ia colher palmito na Semana Santa, para alimentação da família. Todas as vezes ele ia lá na mata pegar. Um dia, chegou à conclusão de que não era mais viável, então pensou: ‘por que não produzir próximo de casa?’. Foi quando pegou as mudas e plantou perto de casa. As plantas foram produzindo frutas, os pássaros se aproximaram, se alimentaram e foram semeando”, contou.
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Já a ideia de aproveitar os frutos da árvore, além do palmito, partiu de um jovem estagiário da propriedade.
“Ele perguntou por que a gente não usava a fruta para suco. A gente nunca tinha pensado nisso. Subimos na planta, colhemos, higienizamos, fizemos o suco e vimos que era de excelente qualidade”, completou Bortolotti.
Foi aí que a família descobriu que a fruta lembrava muito o açaí, na aparência e no sabor. Isso ajudou na aceitação do produto no mercado.
“Na época, a gente vendia dizia que era açaí, porque ninguém conhecia a juçara. A gente vendia na BR-101, e muitos caminhoneiros diziam que aquele era o ‘verdadeiro açaí’, elogiando o sabor e a cor vibrante da bebida”, relembrou o produtor.
Fruto vira polpa, renda e até ração animal
Após a retirada da polpa, o que sobra do fruto da juçara, principalmente as sementes, podem ser aproveitados. Na foto, formas da semente secas, sementes limpas, resíduos e pó para infusão. Espírito Santo.
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A cadeia produtiva da juçara tem evoluído. Após a retirada da polpa, o que sobra — principalmente as sementes — também é aproveitado. O extensionista do Incaper, Justino Marcos Marquezine, explica o caminho do reaproveitamento:
Sementes secas: ganham textura similar a pelos e podem ser usadas como material para ninho de aves e forração de plantas;
Substrato: a decomposição do resíduo vira base para produção de mudas;
Ração: o material moído pode ser usado na alimentação de peixes, porcos e bovinos, graças ao alto teor de nutrientes como o magnésio;
Infusão: a torra da semente dá origem a um produto que pode ser consumido como bebida nutritiva.
“A cadeia da juçara hoje é uma das três que mais geram renda no campo, ao lado do café e da banana. Tudo isso com respeito ao meio ambiente”, destacou Marquezine.
Sorvete de juçara
A produtora Drielem Perim Zambe Menegardo foi além. Há três meses ela investe na produção de sorvete de juçara e viu o negócio crescer rápido.
Ela começou fazendo dois litros por dia, na cozinha de casa, e comprou uma máquina com investimento de R$ 23 mil. Hoje, produz cerca de 400 litros por dia e sonha em levar o produto para fora do estado.
A produtora Drielem Perim Zambe Menegardo investe há três meses na produção de sorvete de juçara, em Rio Novo do Sul, no Sul do Espírito Santo.
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“Em três meses, vendemos tudo na feira do município, conseguimos vender todo o nosso estoque, fazer as entregas de 60 litros e pagamos o equipamento. Percebemos que o mercado queria esse sabor. […] A juçara tem sabor marcante, não precisa de gordura hidrogenada nem corante. É natural e muito saborosa”.
Sustentabilidade e biodiversidade
A juçara é considerada espécie-chave da Mata Atlântica, essencial para a biodiversidade. Seus frutos alimentam aves e mamíferos silvestres como tucanos, cutias, arapongas, sabiás, antas e esquilos, que também ajudam na dispersão natural das sementes pela floresta.
Além disso, o cultivo da juçara em sistemas agroflorestais contribui para a conservação do solo e da água, ampliando mercados e fortalecendo a agricultura familiar.
Conheça a juçara, árvore da Mata Atlântica de onde se tira palmito e com fruto semelhante o açaí. No Espírito Santo, Rio Novo do Sul concentra hoje a maior produção do estado da palmeira Euterpe edulis.
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Espécie ameaçada
Apesar do avanço na produção sustentável, a palmeira juçara ainda integra a lista de espécies ameaçadas de extinção. A coordenadora do Incaper, Fabiana Gomes Ruas, explica que o problema histórico está ligado ao consumo do palmito.
“Como a planta tem apenas um estipe, quando se retira o palmito, mata-se a árvore. No passado, ninguém se preocupava em replantar, e isso levou a uma redução drástica da espécie”, explicou.
Por isso, o foco atual é preservar e replantar, mostrando aos produtores que é possível lucrar com os frutos sem sacrificar a árvore.
“Quando o agricultor percebe as possibilidades que a juçara oferece, seja para alimentação, renda ou paisagismo, ele se torna um parceiro na conservação”, reforçou Fabiana.
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Fonte: G1 Read More