
Imposto de Renda 2025: não consegue fazer declaração online? Entenda por que e o que fazer
19/03/2025
Executivo da GM diz que juros altos reduzem as vendas, mas prevê cenário menos nebuloso em 2025
19/03/2025
Valor de comercialização do fruto pelo produtor subiu cerca de 150% em 1 ano, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Grãos de café especial
Stephanie Rodrigues / g1
O preço do café continua alto por causa da queda de produção gerada pelos problemas climáticos. A maioria dos produtores sofreu perdas, mas alguns mais sortudos que conseguiram ter uma boa safra estão lucrando com o seu encarecimento.
Na venda realizada pelo produtor, o café arábica, o mais plantado do país, encareceu 150% em 1 ano, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Os cafeicultores Manasses Sampaio Dias, de Divinolândia (SP), e Thiago Carvalho, de Lavras (MG) estão entre os produtores que conseguiram aproveitar esse preço.
O lucro de Manassés com as vendas aumentou em 30% este ano, enquanto o de Thiago alcançou até 150%.
Com mais dinheiro no bolso, os produtores estão de olho no futuro e investindo na lavoura, principalmente em métodos para se proteger de novas secas.
Thiago planeja expandir sua área irrigada para 100% de seus 360 hectares. Já Manasses instalou barraginhas ao longo de sua lavoura de 12 hectares. A estrutura é uma bacia escavada no solo para armazenar água da chuva.
“Por enquanto não está dando para trocar de carro, essas coisas. Ainda não estou pensando nisso”, disse Manasses.
Preço do café já subiu quase 40% no mundo e alta deve durar pelo menos quatro anos, diz ONU
Thiago Carvalho, cafeicultor
Arquivo pessoal
Pagamento de dívidas e investimento
Manasses, de 49 anos, trabalha com a agricultura familiar no plantio do café arábica e comercializa parte da sua produção para exportação, outra para a torrefação do pó tradicional e para uma marca própria de café especial.
Na última safra, ele conseguiu 320 sacas do fruto, equivalente a mais de 19 mil kg.
Mas isso não significa que tudo foi vendido no valor atual do café, de cerca de R$ 2.500 a saca. Isso porque a venda é feita no mercado de futuros, o que significa que ela é realizada de forma antecipada, com o preço daquele momento.
O produtor já conseguiu ampliar o seu sistema de barraginhas, com um gasto de R$ 10 mil.
Ele também aumentou a secagem do grão por meio de terreiro suspenso. Se trata de uma estrutura que permite a passagem de ar e luz solar, e evita o contato do fruto com o chão. Sua implementação custa cerca de R$ 15 mil reais.
Usando essa técnica, a qualidade do café aumenta, principalmente para o especial.
Além das melhorias já implementadas, ele deseja construir uma microtorrefação, para ampliar a produção da sua marca própria da bebida.
Manassés Sampaio Dias, cafeicultor
Arquivo pessoal
Esse é o único investimento que ele ainda não conseguiu efetivar, tendo um custo estimado entre R$ 80 mil e R$ 100 mil. A principal razão para este preço é o custo dos equipamentos, que são mais caros.
A situação de Thiago, de 43 anos, não é muito diferente, apesar da produção e do lucro maior. O produtor de médio porte trabalha com exportação e café especial. Sua lavoura gerou em torno de 30 sacas por hectare de café arábica.
Ele explica que apenas cerca de 30% da sua safra pôde ser comercializada no pico do preço, também por já ter vendido parte antes da elevação dele.
A primeira coisa que o produtor precisou fazer com o lucro foi pagar as dívidas com financiamentos rurais.
“O padrão de vida até que não muda muito, mas acaba que a gente que faz mais investimentos”, afirma o cafeicultor.
A meta dele é tornar a sua produção 100% irrigada, para se proteger de secas no futuro. Ele estima que gaste até R$ 20 mil por hectare para implementar o sistema.
“Mas não é sempre assim com lucro. A gente vem desde 2020 sem uma safra boa. Um ano foi frio, outro ano foi seca, o outro ano foi temperatura alta”, explica.
Assista abaixo como as ondas de calor afetaram as lavouras de café.
Calor deixa o café ‘estressado’, pode derrubar a produção brasileira e encarecer a bebida
Como calor e seca afetam alimentos e já deixam o café mais caro
O segredo da boa colheita
Nem todos os produtores tiveram a sorte de Thiago e Manasses. Muitos produtores não tiveram uma boa safra devido ao calor e as altas temperaturas.
Além disso, o custo de produção também subiu, como o maior gasto com logística, gerado pelas guerras no Oriente Médio.
Mas alguns fatores favoreceram a produção dos dois agricultores.
No caso de Manasse, a cidade de Divinolândia, no interior de São Paulo, é caracterizada pela altitude de mais de mil metros acima do nível do mar. Por isso, o clima é mais ameno do que em outras áreas produtoras, beneficiando os cafeicultores por lá.
Além disso, ele utiliza a agricultura regenerativa, em que os produtores podem aplicar diferentes métodos para recuperar a sustentabilidade da lavoura, sendo que uma delas é o plantio de árvores. O g1 explicou a técnica na série Prato do Futuro. Confira no vídeo abaixo.
Cafezinho em risco: como sombra de árvores pode ser solução para aumento da temperatura
Parte do cafezal do produtor é sombreada com bananeira e abacateiro, o que ajuda a diminuir a temperatura nas plantas, bem como reter a umidade do solo.
“Curiosamente esses anos de mais escassez de chuva e de mais calor foram os anos em que a gente teve maior produtividade”, afirma.
A técnica também protege o plantio contra geadas e ventos. Ela ajudou o produtor a enfrentar a geada de 2021, que danificou cafezais no Sudeste e Sul do país.
“Nas áreas que eu tinha mais bananeira, eu tive mais produtividade e o granizo estragou pouco”, relata. Para ele, o custo de manejo das árvores vale a pena pela proteção da sua lavoura.
Já para Thiago, o que o ajudou a manter uma boa safra foi a área irrigada. Contando com a lavoura de sequeiro, onde não tem irrigação, ele estima que teve uma perda de de em torno de 30% dos grãos.
Leia também:
‘Café fake’: saiba diferenciar café e pó sabor café na prateleira, para não errar nas compras
Pó de café não tem só… café; descubra o que são as impurezas permitidas por lei
Veja também:
De onde vem o que eu bebo: o café especial que faz o Brasil ser premiado no exterior
‘Café fake’: saiba diferenciar café e pó sabor café na prateleira
Fonte: G1 Read More