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04/07/2025
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04/07/2025Para especialistas, críticas de Lula à austeridade são vagas e descontextualizadas; economistas afirmam que responsabilidade fiscal garante segurança e previsibilidade à economia. Economistas divergiram nesta sexta-feira (4) da fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que afirmou que o “modelo de austeridade não deu certo em nenhum país do mundo”. A declaração foi feita um dia antes, durante evento no Rio de Janeiro, em que Lula também defendeu uma nova política de financiamento sem exigências para concessão de crédito.
“Vocês podem e devem mostrar ao mundo que é possível criar um novo modelo de financiamento sem condicionalidades. O modelo da austeridade não deu certo em nenhum país do mundo”, disse Lula na ocasião.
Para Robson Gonçalves, economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), a fala não se sustenta nem na teoria nem na prática.
“Não existe modelo de financiamento sem condicionalidade. Isso equivaleria a um credor emprestar sem nenhum critério, o que é incompatível com qualquer sistema financeiro viável”, afirmou. “Todo agente econômico — pessoa, empresa ou Estado — tem um limite de crédito. E esse limite está atrelado justamente à sua responsabilidade fiscal.”
Lula também associou políticas de austeridade ao aumento da desigualdade: “Toda vez que se faz austeridade, o pobre fica mais pobre e o rico mais rico. É isso que nós temos que mudar.”
Gonçalves rebate. “Essa afirmação é genérica. Países escandinavos, por exemplo, conseguiram reduzir desigualdades mantendo responsabilidade fiscal rigorosa. Não existe correlação direta entre austeridade e desigualdade social. Há outros fatores em jogo.”
Segundo ele, o discurso de Lula “parece remetido à lógica do início do século passado”. “Em 1925, teria sido uma fala progressista. Em 2025, está fora de contexto.”
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Austeridade não exclui justiça social
Marcus Pestana, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), afirmou que conceitos como “austeridade” e “expansionismo” precisam ser compreendidos dentro do contexto histórico de cada país.
“Keynes escreveu sobre a necessidade de estímulo em um cenário de depressão em 1929. Mas hoje o Brasil não está em recessão. Temos uma economia razoavelmente aquecida, com emprego em alta. Manter déficits sistemáticos em um cenário assim pode agravar a dívida pública”, disse Pestana.
Ele destacou que a missão da IFI é técnica e apartidária: “Nosso papel é oferecer alertas com base em projeções e dados confiáveis. E, hoje, os números mostram que o atual regime fiscal é insustentável no médio prazo.”
Contexto fiscal preocupa
A fala do presidente vem em meio a crescentes preocupações com as contas públicas. Em maio, o governo propôs ao Congresso adiar de 2025 para 2026 a meta de zerar o déficit fiscal. O gesto foi visto como um sinal de frouxidão na condução da política econômica, o que gerou ruídos com o mercado e pressionou o dólar e os juros.
Desde então, declarações de Lula contra o que ele chama de “austeridade” têm sido acompanhadas com atenção por economistas e investidores.
“Austeridade não significa cortes insensíveis. Significa ter disciplina, previsibilidade e segurança para o país e para quem investe nele. Sem isso, não há crescimento sustentável”, disse Robson Gonçalves.
Fonte: G1 Read More