Produtores rurais sofrem com prejuízo milionário após ciclone no RS
25/06/2023Governo eleva tributos federais sobre combustíveis em 1º de julho; alta será de R$ 0,22 por litro
25/06/2023 A companhia teria captado mais de US$ 19 milhões via rodada de investimentos. Para quitar dívidas, seria preciso realizar 193 viagens de sucesso em direção aos destroços do Titanic. Submarino Titan, da OceanGate, que implodiu no oceano e mantou cinco pessoas.
AP
A OceanGate, empresa responsável pelo submarino Titan, que implodiu e matou cinco pessoas na última semana durante um passeio aos destroços do Titanic, pode encerrar as operações por não conseguir quitar suas dívidas. A afirmação é de Felipe Pontes, sócio da consultoria financeira L4 Capital.
Para o executivo, a credibilidade da empresa foi “perdida de forma irreversível” após o acidente e em meio aos sinais de que a companhia se desviou de algumas normas básicas de segurança — inclusive após notícias sobre a demissão, em 2018, de um diretor que questionou a segurança do submersível.
Receba no WhatsApp notícias sobre o submarino que implodiu em visita ao Titanic
“Eu diria que existe uma probabilidade muito alta de [a OceanGate] descontinuar o negócio”, afirmou Pontes, alertando que uma possível insolvência com processo e multas também pode levar a companhia a pedir falência por meio do Capítulo 11. (veja mais abaixo)
‘Eu quebrei algumas regras’, relatou fundador da OceanGate, dona do Titan, em 2022
Captação milionária
Segundo informações da CrunchBase, plataforma sobre negociações comerciais, uma das captações de recursos feitas pela OceanGate aconteceu em 2020.
Na ocasião, a companhia de turismo realizou uma rodada de investimento — um dos meios pelos quais empresas conseguem dinheiro para criar ou ampliar os negócios — e levantou US$ 19,3 milhões (aproximadamente R$ 92,2 milhões).
As empresas normalmente captam dinheiro para:
pesquisar e desenvolver equipamentos;
expandir operações;
marketing para alcançar mais clientes;
e cumprir questões regulatórias e de segurança.
O g1 questionou a empresa sobre onde os US$ 19,3 milhões teriam sido investidos, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Segundo o CrunchBase, o valor teria sido usado para criar o passeio turístico até o Titanic.
Um levantamento feito por Pontes, da L4 Capital, estima que a OceanGate precisaria realizar 193 viagens para quitar todo o investimento captado. (entenda abaixo)
De acordo com a companhia, 18 expedições estavam planejadas para o local do naufrágio em 2023 — o acidente da última semana teria sido a primeira tentativa deste ano.
As viagens foram vendidas após a empresa conseguir realizar mergulhos bem-sucedidos nos anos anteriores. Segundo informações do jornal norte-americano “The New York Times”, a companhia fez pelo menos outros dois passeios até os destroços do Titanic entre 2021 e 2022.
(MODELO 3D: Deslize o mouse para os lados para ver submarino)
Para chegar ao número de 193 viagens, o economista considerou que a receita de cada viagem ao Titanic é de US$ 1 milhão — o preço cobrado por passageiro é de US$ 250 mil (R$ 1,2 milhão), e só cabem quatro pessoas por submarino, sem contar o piloto.
Pontes ainda considerou que os custos (como salários dos funcionários, equipamento, custos burocráticos, tributos etc.) devem totalizar aproximadamente US$ 900 mil, sobrando apenas US$ 100 mil para quitar a situação com os investidores.
Assim, seriam necessárias 193 viagens, sobrando US$ 100 mil de cada, para pagar os US$ 19,3 milhões.
Se a empresa fechar, o que acontece com os investidores?
De acordo com Pontes, a maior parte dos contratos feitos para firmar investimentos em capital de risco — como são classificados os investimentos sementes, que são aportes feitos em empresas que estão em estágio inicial ou em fase de projeto e desenvolvimento — são feitos por meio de dívidas conversíveis.
A dívida conversível é um instrumento que permite que os investidores aloquem recursos em uma empresa que esteja em estágio inicial, com a possibilidade de converter essa dívida em participação futura na companhia em evento de liquidez, como é o caso de uma Oferta Pública Inicial de Ações (IPO, na sigla em inglês), ou em rodadas futuras em que o valor da empresa subiu com seu crescimento.
LEIA MAIS
Como a OceanGate foi alertada sobre falta de segurança e mudou mensagem sobre expedição ao Titanic
Do início da expedição à confirmação de morte dos tripulantes: veja cronologia do submarino desaparecido
Além disso, o economista também afirma que não é possível saber se o contrato contou com alguma garantia atrelada para resguardar os investidores.
Ele diz que um contrato sem garantia e que tenha sido firmado por meio de dívidas conversíveis, “é o pior cenário”, para esses investidores.
“Isso significa que, caso a empresa quebre, eles serão os últimos a receber algum recurso de volta”, explica Pontes.
Isso porque primeiro são pagos todos os custos administrativos da falência, dívidas com garantia em algum ativo da empresa e dívidas prioritárias sem garantia (aquelas definidas como prioridade por lei, tais como tributos, salários e outros benefícios a funcionários).
Só então, caso sobre recursos, são pagas as dívidas sem garantia. O restante, se houver, fica com os sócios.
Questionada sobre quem foram os investidores da rodada em que a OceanGate levantou US$ 19,3 milhões, a SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos) informou que “o investimento foi feito pelo Formulário D, que não exige a identificação dos investidores”.
Falência da empresa
O economista sócio da consultoria financeira L4 Capital diz, ainda, que a OceanGate pode entrar com pedido de falência nos Estados Unidos via Capítulo 11. Esse mecanismo jurídico norte-americano permite que o devedor mantenha as operações e adie os prazos de pagamento enquanto busca sanar as dívidas financeiras.
Pontes afirma que a empresa precisa estar insolvente (ou seja, sem conseguir pagar as obrigações financeiras) para entrar em falência.
“Talvez a OceanGate ainda não esteja insolvente. Pode talvez se tornar para pagar futuros processos e multas”, diz o especialista.
Fonte: G1 Read More