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03/12/2023A onda de calor que atingiu o Brasil no mês de novembro — e ameaça voltar agora em dezembro — fez com que a venda de produtos relacionados a climatização e ventilação subissem até 9.300%, segundo e-commerces que atuam no país. Itens como ventiladores, climatizadores e ar-condicionados, tanto novos como usados, tiveram alta demanda. O valor dos produtos também subiu entre 11% e 18%, uns média de 15%. Entre 8 e 15 de novembro, a plataforma de compra e venda online OLX registrou um aumento de 9.300% na venda de ventiladores, no comparativo com a semana anterior. Também houve crescimento de 5.100% na comercialização de climatizadores. Já para o ar condicionado, a alta nas vendas foi de 1.630%. Os percentuais registrados durante a onda de calor de novembro, terceira registrada no ano, são superiores aos da primeira, que teve início em setembro. Na época, houve aumento de 151% na venda de climatizadores, 51% de ar condicionados e 26% em ventiladores. A OLX ainda observou uma alta nos preços médios entre as primeiras ondas de calor o mês anterior. Na época, os três produtos custavam entre R$ 129 a R$ 626; passaram a valer entre R$ 144 a R$ 739. Os valores representam um aumento de 11% a 18%.
“O estudo detectou uma mudança de comportamento do consumidor na plataforma durante os períodos de altas temperaturas, com o crescimento no interesse e nas vendas de aparelhos que amenizam o calor. Com até 44% de economia em relação ao novo, nossos usuários recorreram à OLX para enfrentar o calor sem ter que gastar muito. A grande diversidade de itens na plataforma atende todo tipo de bolso e preferência”, observa a diretora-geral da OLX, Regina Botter. Mato Grosso do Sul, Paraná, Minas Gerais e São Paulo foram os Estados com maior aumento na procura e nas vendas. O marketplace Shopee também identificou um aumento nas buscas por produtos para aliviar os dias quentes. De acordo com a plataforma, a categoria ventiladores cresceu mais de 200% em vendas. “Entre os modelos mais vendidos estão o modelo de mesa (aumento nas vendas de 240%), o clássico de chão (215%), seguido da inusitada opção de pescoço (167%). Outros itens característicos da estação também registraram crescimento como cooler térmico (81%) e umidificador (71%)”, revelou a plataforma.
Sandro Maskio, professor de economia da Strong Business School, destaca que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) levantou que, entre janeiro e outubro deste ano, o preço dos aparelhos de ar-condicionado aumentou 9,3%. O valor ficou acima da inflação acumulada no ano, que somou 3,75% no mesmo período. “Somente no mês de outubro, em razão das temperaturas elevadas, o preço do aparelho de ar condicionado no Brasil se elevou 6%, dado a pressão de elevação da demanda sobre a oferta. Pontualmente, podemos ter casos em que a elevação de preço é superior à variação média observada no país. Isso ocorre geralmente quando há desencontro entre a oferta planejada e realizada no varejo e a intensidade de demanda por parte dos consumidores, sensíveis à variação das temperaturas. Variações desta magnitude, acima da inflação média anual, em apenas um mês apontam o reflexo do desajuste setorial, ampliado o custo relativo dos aparelhos de ar condicionado. Interessante observar também que os ventiladores registram variações mais modestas, de 2,6% no acumulado de janeiro a outubro no Brasil. O que também reflete uma tendência de alteração na composição e preferências dos consumidores ao demandarem soluções para amenizar os efeitos da elevada temperatura”, observa.
O economista Igor Lucena observa que já existiam previsões de que haveria uma onda de calor no Brasil, mas não de que ela seria tão intensa. “Essa onda forte talvez seja o primeiro dos grandes eventos climáticos que não estão afetando apenas uma parte do Brasil, como a gente costuma observar com enchentes e secas. Ela está atingindo o país como um todo. Se a gente analisar isso de uma maneira prática, as altas temperaturas fazem com que o consumo de sorvetes e bebidas aumentem drasticamente, mas estes são produtos de fácil produção. A resposta de oferta e demanda é muito rápida. Entretanto, ventiladores e ar-condicionados são produtos com uma cadeia produtiva muito longa, e a indústria não estava preparada para esse aumento tão brusco na demanda. Com isso, os estoques saem mais rápido e as empresas precisam comprar mais insumo para produzir novos estoques. Isso aumenta o custo, também porque o varejo enxerga a alta demanda e a falta da capacidade da indústria de entregar de maneira tão rápida. Com isso, é comum que o deslocamento entre oferta e demanda faça com que os preços subam”, analisa.
Sandro Maskio também considera que eventos climáticos futuros, sejam nos próximos meses ou anos, podem provocar novos desajustes ente demanda e oferta e levar a novas ascensões de preços setorizados em curtos e específicos períodos de tempo. “Uma das formas da população se preparar para isso é se planejar e comprar produtos que ajudem a amenizar o efeito das elevações de temperatura fora dos períodos de maior demanda. Segundo os meteorologistas, nos anos futuros tendemos a enfrentar novas ondas de calor, como reflexo das mudanças ambientais e climáticas. Há algumas políticas públicas a serem planejadas, como ações voltadas à hidratação das pessoas e nutrição das famílias mais vulneráveis. Com relação à política de consumo de produtos, poderia ser feita uma política de benefício tributário ao setor, com a meta de redução do preço destes bens, que poderia ser complementada com a concessão de crédito direcionado às famílias”, sugere.
Igor Lucena complementa que a população brasileira não pode ignorar os avisos de que as mudanças climáticas irão aumentar no Brasil e no mundo. “Por isso, se fala tanto em transição energética e na necessidade de diminuir a emissão de carbono para que esse tipo de evento não ocorra. A gente sabe que isso pode ser resolvido para algumas classes sociais com a compra de ventiladores e ar condicionados. Mas, para as classes mais pobres, isso pode ser até ser uma questão de vida ou morte”, classifica. Ele afirma que o tema demandará mais atenção de todos, uma vez que as mudanças climáticas afetam o bolso das pessoas e também a qualidade de vida delas.
Fonte: Jovem Pan Read More